Estudos com plantas não convencionais incluem horta experimental e desenvolvimento de alimentos funcionais com pigmentos naturais e elevado valor nutricional
A estudante Glenda Fedochenco Bonini venceu concurso de gastronomia com um risoto feito com flor de clitória l Foto: Divulgação
A Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Marília – Estudante Rafael Almeida Camarinha vem desenvolvendo projetos voltados ao uso de plantas alimentícias não convencionais (pancs), com foco em segurança alimentar, biodiversidade funcional e aproveitamento integral dos alimentos. As iniciativas envolvem atividades de ensino, pesquisa e extensão, sob coordenação da professora Juliana Audi Giannoni.
Na unidade, um dos destaques é o Espaço Verde, horta experimental criada com pneus reutilizados e cultivo de espécies como ora-pro-nóbis, crajiru, taioba, espinafre japonês, cúrcuma, gengibre, batata-doce e Clitória ternátea, entre outras. A área serve como base prática para aulas e trabalhos de graduação dos alunos do curso superior tecnológico em Alimentos.
As pancs também são estudadas em componentes curriculares, como na disciplina de toxicologia de alimentos, que aborda identificação de plantas com propriedades alimentares, fatores antinutricionais, pigmentação natural, estabilidade térmica, composição nutricional e viabilidade de aplicação industrial ou artesanal. Os alunos desenvolvem produtos baseados nas espécies estudadas, unindo ciência e inovação gastronômica.
Sorvete azul
Um dos projetos mais promissores é o sorvete azul elaborado com Clitória ternátea, flor conhecida por sua coloração vibrante e potencial funcional. Rica em antioxidantes e com propriedades que auxiliam na memória e no controle glicêmico, muda de cor conforme o pH.
A novidade está em fase final de testes para ser lançada em parceria com uma sorveteria de Marília “O sorvete tradicional de algodão-doce é muito artificial, com corantes e aromatizantes sintéticos. Nosso objetivo é oferecer uma alternativa natural, mantendo a atratividade visual e trazendo, ainda, benefícios nutricionais”, explica Juliana.
O uso da Clitória ternátea também vem sendo avaliado em contextos especiais, como na alimentação de pessoas com autismo, que podem demonstrar preferência por alimentos azulados. A coloração natural tem se mostrado facilitadora da aceitação alimentar em instituições como a Fazenda Maria Flor, voltada ao acolhimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), em Marília.
Premiação em concurso
Esse trabalho consolidado com pancs, iniciado em 2013, teve um reconhecimento especial no 6º Concurso de Gastronomia com Pancs, realizado em 7 de junho na Estância Vale da Graça, em Vera Cruz. Alunos da Fatec Marília foram premiados com destaque pelas criações.
A estudante Glenda Fedochenco Bonini foi a grande vencedora na categoria Apresentação, sabor e originalidade com o risoto Jardim Azul, que combinou ora-pro-nóbis, flor de clitória, queijo meia-cura e limão-siciliano. Na decoração, ela utilizou lanterna chinesa (sininho), Clitória ternátea, perpétua, folha de capuchinha e flores de moringa. “A experiência enriqueceu muito o meu aprendizado. Me senti muito desafiada, mas também muito realizada. Espero que cada vez mais pessoas descubram, usem e valorizem as pancs no dia a dia”, afirma.
Além de Glenda, Silmar Boni recebeu o prêmio de Destaque em Originalidade com a sobremesa Entremet de seriguela, composta por sorvete de inhame, ganache de caramelo e brownie de jatobá. Já Maryane Souza de Oliveira foi premiada na categoria Melhor Apresentação com o Nhoque da Fada Azul, um grelhado na manteiga que leva pimenta do reino preta e sálvia fresca acompanhado com uma fonduta de queijos parmesão e gorgonzola e finalizado com brotos de alfafa, azeite de salsinha, folhas frescas de orégano, manjericão, brilhantina, trevo, quebra-pedra e penicilina.
Juliana comemora o reconhecimento: “Essas plantas são nossas, da nossa biodiversidade. São nutritivas, resistentes e não precisam de agrotóxicos. A gente ainda joga fora folhas de batata-doce ou trata ora-pro-nóbis como mato. Isso precisa mudar e está mudando.”
Alunos foram premiados por pratos como o risoto ‘Jardim Azul’ e o ‘Nhoque da Fada Azul’