Tecnologia combina visão computacional e análise sensorial para aumentar a precisão de testes realizados com consumidores pela indústria alimentícia
indústria alimentícia investe continuamente em tecnologias que aumentem a precisão de avaliações qualitativas feitas com consumidores | Crédito:
O trabalho desenvolvido por dois professores da Faculdade de Tecnologia Estadual (Fatec) de Marília, que utiliza inteligência artificial para aumentar a precisão de análises sensoriais de alimentos, conquistou o 1º lugar no 16º Simpósio Latino-Americano de Ciência de Alimentos e Nutrição (Slacan), realizado de 17 a 19 de novembro, em Águas de Lindóia.
A pesquisa, intitulada “Aplicação de Modelos de Visão Computacional no Reconhecimento Emocional durante Treinamento de Análise Sensorial em Alimentos”, foi escolhida como a melhor entre mais de 1,3 mil projetos apresentados por cientistas de dezenas de instituições latino-americanas.
Produzido pela professora Elke Shigematsu e pelo professor João Baptista Cardia Neto, o estudo propõe o desenvolvimento de uma ferramenta baseada em inteligência artificial (IA) para aprimorar a avaliação de processos e produtos destinados à indústria alimentícia.
“Nossa ferramenta utiliza um modelo de aprendizado de máquina que aplica reconhecimento facial como complemento aos métodos tradicionais de avaliação subjetiva”, explica Cardia Neto, doutor e mestre em Ciência da Computação.
O procedimento consiste na instalação de câmeras que capturam expressões faciais de indivíduos submetidos à avaliação hedônica tradicional — um teste de aceitação no qual o consumidor responde a um questionário com múltiplas escolhas, cujas respostas variam de “desgostei extremamente” a “gostei extremamente”.
As expressões registradas são analisadas por um sistema computacional baseado em redes neurais convolucionais (CNNs), capazes de identificar e classificar sentimentos e sensações. Esses dados permitem comparar as reações faciais dos participantes com as respostas fornecidas no questionário.
As CNNs são um tipo de rede neural inspirada no córtex visual humano e amplamente utilizadas no processamento de imagens e reconhecimento de padrões, como os de expressões faciais.
“Após a aplicação do questionário, as respostas escritas são comparadas com as reações capturadas e processadas pela IA”, detalha o professor, que leciona no curso de Desenvolvimento de Software Multiplataforma.
A indústria alimentícia investe continuamente em tecnologias que aumentem a precisão de avaliações qualitativas feitas com consumidores — seja para testar novas fórmulas, avaliar lançamentos ou comparar produtos próprios a itens de seus concorrentes.
“Nem sempre os testes com questionários fornecem respostas precisas. Diversas variáveis podem influenciar o participante a responder com mais ou menos sinceridade”, afirma a professora Shigematsu, doutora e mestre em Engenharia de Alimentos.
Os pesquisadores destacam que o método proposto no estudo permite identificar com maior exatidão tendências positivas ou negativas associadas a um produto. “Ter maior controle sobre os sentimentos expressos pela pessoa submetida ao teste é o que mais importa para a indústria”, completa a docente do curso de Tecnologia em Alimentos.
Reconhecimento
Organizado pela Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (FEA/Unicamp), o Slacan é considerado o maior e mais relevante evento de promoção e divulgação científica na área de alimentos e nutrição da América Latina.
“Receber esse reconhecimento é motivo de grande satisfação, sobretudo por se tratar do principal evento científico do setor em toda região continental”, celebra a professora Shigematsu.