Alunos da Fatec Sebrae realizam programa inovador de mentoria

Ensinar empreendedorismo a mulheres em situação de vulnerabilidade é a ideia de estudantes em parceria com instituto carioca

10 de novembro de 2022 10:27 am Fatec, Projetos

Aprendizado das mentoradas vai da elaboração do fluxo de caixa ao fortalecimento das redes sociais | Foto: Divulgação

Um projeto inédito teve início na Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Sebrae: o trabalho de mentoria feito por alunos do curso superior em Gestão de Negócios e Inovação. “É comum que professores sejam incumbidos dessa tarefa”, diz Caio Stettiner, professor e coordenador de curso na unidade. “Mas, ao menos no Brasil, não se sabe de estudantes que exerçam a função.” A mentoria pode equivaler ao estágio exigido ao final da graduação.

Tudo começou com um convite do Instituto Dom, que há três anos atua com trabalho voluntário no Rio de Janeiro, e vem focando sua ação na população feminina em situação de vulnerabilidade. A ponte entre as duas instituições foi feita por Gabriela Dias de Barros, egressa da Fatec Sebrae e voluntária da entidade carioca. Ao saber que um dos fundadores e presidente do Dom, Karl Johnsson, estava à procura de mentores engajados, Gabriela o colocou em contato com  Stettiner, que comprou a ideia. Logo a parceria foi firmada e a proposta de alunos mentores, posta em prática.

Fluxo de caixa e criatividade

 “Apoiamos mulheres que, em alguns casos, não concluíram sequer o Ensino Fundamental e muitas são a única provedora da família”, conta Johnsson. “Nas comunidades, elas começam a empreender vendo o que as vizinhas e conhecidas fazem, mas sem acrescentar qualquer novidade ao produto”, revela. E aí entra a mentoria, que vai além de práticas fundamentais como planejamento, fluxo de caixa, marketing e inserção do produto nas redes sociais. Trabalhando essencialmente com alimentação, beleza e artesanato, as mentoradas precisam acrescentar um diferencial ao seu serviço ou mercadoria usando a criatividade, o que a mentoria também oferece.

“A criatividade é um exercício”, avalia Gabriela, “e nós aprendemos isso na Fatec Sebrae”. Essa é mais uma ferramenta a auxiliar as mulheres que querem extrair de seu trabalho uma remuneração digna. Gabriela também faz o trabalho de mentoria e acredita ser valiosa a experiência de viver na prática o que era visto em sala de aula. “Pela primeira vez percebi o impacto que a minha graduação pode causar”, conta a ex-aluna. “Adaptamos a linguagem acadêmica para a linguagem delas, que entendem e consegue conseguem ver rapidamente o resultado”.

Estágio obrigatório, trabalho voluntário

Em setembro, depois de firmar a parceria com o Instituto Dom, Stettiner fez uma chamada para uma reunião com os alunos interessados. Cerca de 30 compareceram e 24 estudantes encamparam a ideia. Nessa fase experimental, há uma média de três encontros dos alunos com as mentoradas, que sempre levam uma “lição de casa” depois das reuniões mensais  – ou quinzenais, caso da aluna Sâmia Maria Sales Wiethaus, que cursa o quinto semestre de Gestão de Negócios e Inovação. A estudante bom tem utilizado também o aprendizado dos cursos que vem fazendo na área de desenvolvimento, uma ajuda quando se trata de conviver com realidades tão diferentes. Sua mentorada, da área da beleza, não se via empreendedora por não estar em um espaço físico. Foi preciso fazê-la mudar o ponto de vista e tirar proveito do fato de que atendia em domicílio. “Ela começou a criar pacotes de serviços, aumentando a soma que cada visita lhe rendia.”, diz Sâmia, que lê entusiasmada os comentários deixados no grupo de WhatsApp. “Elas estão gostando do trabalho; seus depoimentos são bem pontuais”.

Cabelos trançados

Débora Vitor Ferreira, moradora da Rocinha, na cidade do Rio de Janeiro, fez um curso de trancista há um ano e não perdeu tempo quando soube da mentoria. “Ainda não tenho o público que quero, mas vou alcançar”, afirma, convicta. Ela não poupa elogios ao estudante César Fonseca, seu mentor, com quem vai ter a segunda reunião. “César me orientou em relação ao público-alvo e vai me ajudar a trabalhar redes sociais e questões financeiras”, comenta.

A trancista costuma trabalhar com crianças, o que pede paciência. “Criança não para, mas eu consigo trançar o cabelo delas; as mães adoram, elas ficam prontas para a escola a semana toda”. Uma das suas clientes, de apenas três anos, já é assídua. Mesmo com o vocabulário reduzido de uma menina dessa idade, ela conhece a palavra que a define quando Débora termina o trabalho em seu cabelo: “maravilhosa”.

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