Aprendendo em campo, lado a lado com os profissionais

Matéria da Revista do CPS apresenta as diversas estratégias da instituição para fazer com que os estudantes aprendam em ambientes reais de trabalho

6 de janeiro de 2022 10:02 am Etec, Fatec, Institucional

Alunos do curso superior de tecnologia em Radiologia da Fatec de Botucatu atuam no HC da Unesp | Foto: Divulgação

As salas de aula no Centro Paula Souza (CPS), sempre que possível, se prolongam muito além dos muros escolares, se expandido para dentro dos ambientes reais de trabalho. Uma característica tradicional do ensino profissionalizante, a aprendizagem prática é considerada, nas Escolas Técnicas (Etecs) e nas Faculdades de Tecnologia (Fatecs) estaduais, um recurso educacional estrutural, empregado de diferentes formas, nas mais diversas oportunidades.

Uma das estratégias bem-sucedidas desse conceito, já há muitos anos, é o relacionamento com o setor produtivo. As empresas recebem de braços abertos docentes e alunos para que conheçam os locais onde vão atuar e, principalmente, para propiciar aos futuros profissionais experiências em conjunto com veteranos, vivenciando desafios do cotidiano e participando do desenvolvimento de soluções para problemas reais.

Cada curso tem suas características próprias e demandas específicas em relação às práticas didáticas. Visitas técnicas, estágios, projetos especiais são elaborados por meio de trabalho colaborativo, com a participação de educadores do CPS e de equipes dos parceiros. “Essa interação torna a atividade de campo significativa para o aluno e atrativa para a empresa que o recebe. No final das contas, é o seu futuro funcionário”, explica Priscila Cristina Paieiro, coordenadora de projetos de gestão pedagógica da Unidade do Ensino Médio e Técnico (Cetec). “A formação ganha um complemento valioso: o olhar da empresa, que em alguns casos até participa dos processos de avaliação do desempenho dos estudantes”, acrescenta.

Para que a atividade pedagógica em campo traga um bom resultado, é preciso um cuidadoso trabalho de preparação. Laysmaira da Silva Costa, coordenadora do curso técnico de Enfermagem na Etec Parque da Juventude, na Capital, conta que antes de levar os alunos para um hospital ou uma unidade de saúde, por exemplo, é feito um reconhecimento de campo pelo professor. “No Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, o supervisor da turma passa três dias, em tempo integral, conhecendo pessoas e acompanhando rotinas. No primeiro dia dos estudantes, ele é quem faz o reconhecimento de campo com os jovens”.

No terceiro semestre do técnico de Enfermagem, Hellen Rayssa Dantas da Silva relata que a prática local não
serve somente para compreender a teoria e treinar procedimentos: “É superimportante você se sentir na situação, observar como se sai em uma ou outra especialidade, o que fala mais alto no seu coração. Eu, por exemplo, descobri no estágio que me identifico mais com o trabalho no centro cirúrgico, apesar de ter gostado muito do que fiz na Unidade Básica de Saúde. Até apliquei vacina da Covid-19!”. É fundamental, destaca Hellen, a postura dos profissionais locais, quando eles interagem e dão oportunidade para os estudantes colocarem a “mão na massa”.

Curtumes

Outro exemplo de curso em que os alunos colocam seus conhecimentos em prática é o técnico em Curtimento, que
faz parcerias com curtumes regionais. Coordenadora do curso técnico em Curtimento na Etec Prof. Carmelino Corrêa Junior, de Franca, Joana D´Arc Felix de Souza conta que os estudantes vão para as empresas aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula tendo acesso a equipamentos utilizados diariamente na produção, coisa que nem sempre está disponível nas escolas.

“Na Etec, nós temos, por exemplo, um fulão pequeno, que nos foi doado. Essa máquina é usada para o tratamento de peles. Mas, no curtume, os jovens têm a chance de manipular um fulão mais robusto, sob assessoria de um técnico que lida com isso todos os dias. É uma troca muito rica”, ressalta Joana. O movimento contrário também é rotineiro e muito produtivo. “É quando o aluno vê algo diferente no local da produção e traz para a sala de aula para discussão”, frisa Maria de Fátima Lespinassi Zani, diretora da Etec.

Formado na Etec Prof. Carmelino Corrêa Junior e técnico em Curtimento e em Meio Ambiente, Brendo Washington Leandro aponta, como ponto forte do estágio, os contatos com o mercado. Ele fez estágio na indústria química
Buckman enquanto estudante, depois de formado percorreu diversos curtumes até em outros Estados, e hoje
é contratado pela própria Buckman como assistente técnico de campo.

Projeto Integrador

Em Matão, uma nova unidade de Fatec foi criada, em 2019, com o intuito de atender às demandas do arranjo
produtivo local. E o curso inaugural, Análise de Processos Agroindustriais, já começou com um diferencial: todos
os alunos passam pelo Projeto Integrador, no qual os jovens têm a tarefa de pensar em soluções para necessidades
corporativas reais.

O diretor Marcelo Rodolfo Picchi, conta que a faculdade firmou convênios com seis grandes empresas regionais, dos setores de implementos agrícolas, agroindústria e suplementação alimentar. No primeiro semestre do curso, durante as visitas técnicas, as turmas são recebidas por responsáveis, gerentes e diretores das áreas que serão objeto de pesquisa. “Se necessário, eles voltam para levantamento de dados, observação de processos e entrevistas com funcionários”, diz Picchi.

Atualmente trabalhando na Prefeitura de Matão, Willian di Gaetano Bassi faz parte da primeira turma da Fatec, que vai se formar em 2022. “Os alunos ganham ao ter acesso a novas perspectivas, conhecer a visão das pessoas que estão na linha de frente da produção. Mas nós também levamos a teoria para dentro da empresa.” Em sua opinião, existe um intercâmbio de saberes. “Por isso essas pessoas têm muito respeito pela Fatec e pelos formados. Eu até participo de um grupo de Whatsapp com todos, acompanhando os desafios da empresa. Isso é muito interessante! Sem falar que, muitas vezes, os alunos são contratados para as vagas que surgem”.

Alexandre Baldan, executivo da Baldan Implementos Agrícolas, uma das parceiras da Fatec Matão, reforça esses benefícios. Para ele, a interação com os estudantes mantém a empresa oxigenada, com os conhecimentos atualizados. “Essa interlocução é fundamental para nós. Proporciona acesso a uma visão técnica externa dos processos, que vai se somar aos nossos talentos internos na resolução dos problemas. Além disso, ao experimentar uma vivência dentro do nosso chão de fábrica, esse futuro profissional, quando estiver apto para se inserir no mercado, vai ter certamente uma adaptabilidade mais rápida, vai conseguir fazer uma entrega mais assertiva”, alerta Alexandre.

Avaliação

As atividades de campo, tanto nas Etecs quanto nas Fatecs, em geral valem pontos para compor as notas. Por isso, são supervisionadas por professores, requerem a realização de tarefas e passam por avaliações. Em alguns casos, as avaliações contam com a contribuição das equipes técnicas dos parceiros. No curso superior de tecnologia em Radiologia, da Fatec de Botucatu, os alunos têm aulas práticas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

A coordenadora do curso, Ana Lúcia Marcondes, diz que as turmas acompanham toda a rotina da instituição: recebem pacientes, fazem exame, encaminham para o sistema, percorrendo todos os setores do Centro de Diagnósticos por Imagem, durante 920 horas de estágio. “Para a avaliação, há reuniões entre professores e coordenadores da Fatec e técnicos funcionários do hospital. A partir desse debate, a própria equipe do hospital prepara a avaliação a ser aplicada”.

O melhor dos mundos, do ponto de vista dos alunos: ser avaliado exatamente por seu futuro empregador, com
tempo de corrigir falhas e aprimorar conhecimentos que podem fazer a diferença na conquista de um lugar ao sol.

AMS

A Articulação dos Ensinos Médio e Superior (AMS), modalidade criada em 2019, oferece dois diferenciais que têm
atraído muitos candidatos nos processos seletivos. O primeiro é que o estudante pode fazer uma formação associada e contínua, passando da Educação Básica diretamente para a Superior, sem necessidade de prestar vestibular. O segundo é que, além das três mil horas regulares do curso, são obrigatórias mais 200 horas de atividades práticas dentro de empresas.

As primeiras turmas foram implantadas em um projeto-piloto com ingresso no Ensino Médio com Habilitação Técnica em Desenvolvimento de Sistemas, em 2018, em duas parcerias com o setor produtivo. A IBM, na cidade de Americana e na Capital paulista; e a Volkswagen, em São Caetano do Sul, na Região do ABC. No primeiro semestre de 2020, a oferta contabilizou 1.196 vagas, em mais de 20 municípios paulistas.

A interlocução com as empresas parceiras é um sucesso. “A empresa praticamente ‘adota’ os alunos, oferecendo apoio em todas as etapas do programa”, comenta Márcia Cristina dos Santos Ferreira, coordenadora da AMS na Etec Jorge Street, em São Caetano do Sul. Ela conta que os estudantes fazem cerca de cinco visitas técnicas em que conhecem todos os ambientes da empresa, participam de palestras, capacitações e mentorias com os profissionais. “Em contato com o pessoal da parceira, os estudantes fazem verdadeiras reuniões operacionais de trabalho. Eles começam por identificar um desafio na empresa, coletar dados para refletir sobre as possíveis soluções e depois desenvolvem um projeto que no final do curso é apresentado na escola e também para os funcionários da empresa”, conta Márcia.

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