Projetos realizados enquanto cursam Etecs e Fatecs levam alunos a eventos em outros estados ou ao exterior. A experiência já é suficiente para oferecer um rico aprendizado
Ao lado da professora Marcia Freitas, Felipe Pinheiro foi o único representante do Sudeste no Prêmio Jovem da Água | Foto: Divulgação
O primeiro semestre de 2024 fechou com um egresso de Escola Técnica Estadual (Etec) e um estudante de uma Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) do Centro Paula Souza (CPS) selecionados em eventos que reuniram jovens de todo o Brasil para disputar uma vaga em premiações internacionais. Ex-aluno da Etec Irmã Agostina, da Capital, Felipe Pinheiro ficou entre os cinco finalistas do Prêmio Jovem da Água de Estocolmo, que reuniu estudantes entre 15 e 20 anos, em Brasília. Paulo Henrique de Carvalho Camilo, estudante da Fatec Mogi Mirim – Arthur de Azevedo carimbou o passaporte na Expo Milset Brasil 2024 para disputar a Expo Science International, em Abu Dabhi, em 2025.
Levando ou não o primeiro prêmio, os estudantes que chegam ao pódio da semifinal conquistam experiência, conhecimentos e fazem um bom network. Felipe era o único representante da região Sudeste no Prêmio Jovem da Água de Estocolmo, com o projeto Carvoamento: síntese de carvão ativado a partir de cascas de amendoim para absorção do corante azul de metileno. Apresentado como trabalho de conclusão de curso (TCC), ao lado das estudantes Gisele Jonsson da Fonseca e Gisle de Oliveira Alves, o Carvoamento utiliza casca de amendoim para obter carvão ativado capaz de retirar dos lençóis freáticos o azul de metileno, corante utilizado por vários setores da indústria, como o têxtil.
Existe no mercado um produto com a mesma finalidade, mas é fabricado industrialmente. “Feito com a casca do amendoim, o carvão seria produzido de forma sustentável. E o filtro tem potencial para bloquear alguns agrotóxicos”, informa o estudante. Criado em 1997, o Prêmio Jovem da Água de Estocolmo está presente em 40 países, buscando alternativas sustentáveis e inovadoras para tratamento, monitoramento e prevenção de problemas relativos à água.
“Nos projetos de TCC, os alunos são encorajados a participar de eventos e feiras de ciências onde divulgam seus projetos e interagem com estudantes de outras instituições”, diz Marcia Freitas da Silva, que acompanhou o estudante a Brasília. Thaís Taciano e Aline Ramos também participaram do projeto, como professoras da disciplina de TCC. “O concurso proporciona intercâmbio, integração e uma vivência de culturas diferentes entre alunos, professores e a equipe gestora do prêmio, tanto em nível nacional como internacional”, considera Marcia.
Visibilidade
Considerado o Nobel da ciência jovem, o Prêmio Jovem da Água de Estocolmo leva à final mundial, na capital da Suécia, apenas o primeiro colocado de cada País. Para Felipe, de 18 anos, a ida a Brasília já valeu a pena. “A visibilidade desses eventos é boa para o projeto”, diz o egresso. “No prêmio, os patrocinadores conversam com os estudantes, orientando e deixando as portas abertas para quem quiser procurá-los em busca de investimento”.
“A certificação do prêmio aumenta as chances na aplicação em bolsas no exterior”, lembra Felipe, que já apresentou o projeto na Feira Brasileira de Ciência e Engenharia (Febrace) da Universidade de São Paulo (USP). Agora, a proposta é finalista da Feira Tecnológica do Centro Paula Souza (Feteps), que será realizada entre 19 e 22 de agosto.
Enquanto cursa Química Industrial, na Universidade Federal de São Paulo, (Unifesp), o jovem planeja os próximos passos e inclui universidades do exterior em seu mapa de estudos futuros. No entanto, o foco continua o mesmo. “Gosto de pesquisa e desenvolvimento para setores ambientais: água, solo e ar. Mas a água se tornou o meu xodó”, conta.
Rumo a Abu Dhabi
Paulo Henrique de Carvalho Camilo, aluno do quinto semestre do curso de Projetos Mecânicos, da Fatec Mogi Mirim, levou ao Expo Milset Brasil 2024 o projeto Prótese Inteligente. O evento foi sediado em Fortaleza, no final de maio, com participação de alunos de todo o Brasil, do Ensino Fundamental ao Superior.
O projeto obteve aprovação para disputar credenciais para feiras brasileiras e do exterior, a exemplo da Feira Municipal de Tecnologias para Inclusão, em Matanza, na Argentina. A cereja do bolo veio na forma de credenciamento para a Expo Science International, a se realizar em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, entre os dias 27 de setembro e 3 de outubro de 2025, ao lado de cerca de 50 estudantes brasileiros, que devem compor a delegação brasileira com hospedagem e alimentação pagas pelo evento.
Boné com bluetooth
Pensada para quem teve o braço amputado na altura do ombro, ou nasceu sem o membro, a Prótese Inteligente possibilita a rotação do punho, o movimento do cotovelo e dois movimentos do braço: lateral e frontal. O diferencial em relação às próteses encontradas no mercado é o acionamento, feito por um boné com bluetooth, além da inclinação da cabeça.
“Há no mercado inúmeras próteses controladas pela contração e extensão de músculos (mioelétricas). Entretanto, são necessários quatro músculos para controlar a prótese, algo difícil de coordenar para alguém sem um dos braços. Com a Prótese Inteligente, basta a inclinação da cabeça”, diz Paulo Henrique.
O autor do projeto explica que, em outro campo de pesquisa, se encontra a Neuralink, empresa norte-americana que estuda a interface cérebro humano-computador a partir da implantação de um chip no cérebro, procedimento de altíssimo custo. “Pensei em uma interação entre o paciente e a prótese de forma intuitiva e acessível”, explica o aluno, realizado com a experiência, que define como “acolhedora”. E acrescenta: “Fiquei feliz com o encontro de diferentes culturas levadas por participantes de diversas partes do Brasil e do exterior”.
TG e Inova CPS
A ideia da prótese nasceu como Projeto de Graduação (TG) e ganhou corpo na Escola de Inovadores, curso de extensão da Inova CPS que incentiva ideias inovadoras. Em Fortaleza, Paulo Henrique teve a companhia de Eliandro Rezende da Silva, coordenador de estágio, e de Antony de Paula, aluno de uma escola parceira de Ensino Médio da região, que participou da elaboração do projeto.
O professor é um entusiasta desses encontros. “O nível de aprendizagem que os alunos atingem em um evento como esse é imensurável. Os jovens têm a oportunidade de praticar outro idioma e conhecer outra cultura, bem como a possibilidade de entrar em contato com o que há de mais novo na ciência e na tecnologia”, comenta. “Além disso, eles ampliam o network para além das fronteiras do Brasil ao se relacionar e trocar experiências com estudantes do mundo todo.”