Unidade forma profissionais altamente qualificados para mercado da indústria aeronáutica, em franca expansão no território nacional com aumento da demanda por aeronaves
Em fevereiro, a empresa norte-americana Flexjet realizou o maior pedido de jatos executivos da história da fabricante brasileira Embraer. Investiu US$ 7 bilhões na compra de cerca de 200 modelos Praetor 600, Praetor 500 e Phenom 300E. No mesmo mês, a ANA Holdings, uma das principais companhias aéreas do Japão, fechou contrato com a Embraer no valor de US$ 1,6 bilhão para a compra de 20 jatos E190-E2. Esses são apenas dois exemplos que mostram o céu de brigadeiro que se apresenta à indústria aeroviária nacional.
Para contabilizar com realismo as demandas do setor, é preciso lembrar as trágicas notícias do início do ano – entre janeiro e fevereiro, foram registrados no país 30 acidentes aéreos, com doze mortes. Segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, ligado à Força Aérea Brasileira, os principais motivos dos acidentes foram falha ou mau funcionamento de sistema, ou de motor.
Esse cenário faz pensar, de diferentes ângulos, sobre a importância de uma boa formação dos profissionais que atuam na cadeia produtiva da aviação. É nesse universo que se insere o curso superior de tecnologia em Manutenção de Aeronaves, ministrado pela Fatec São José dos Campos – Prof. Jessen Vidal. Localizada em uma região vocacionada para a indústria aeronáutica – não apenas porque é a sede da Embraer, mas porque abriga também fabricantes de peças, desenvolvedores de soluções e empresas de vigilância aérea –, a Fatec já formou 32 turmas nesse curso. “Em 2025, estamos com 227 alunos, dos quais 18% são mulheres, em um setor que até pouco tempo era predominantemente masculino”, diz o coordenador Roque Antônio de Moura.
O projeto pedagógico e a infraestrutura de ensino oferecem aos estudantes a possibilidade de entrar em contato com o setor desde o primeiro semestre. “Por meio da Aprendizagem com Projetos Integrados, os jovens são desafiados a resolver problemas reais, propondo soluções técnica e economicamente viáveis”, conta Roque. O campus dispõe de um enorme angar, onde funcionam laboratórios de motores, de hidráulica, de eletroeletrônica. Tem ainda um laboratório de asas rotativas e drones, além de um laboratório de equipamentos eletrônicos montado dentro da fuselagem de um jato Embraer 170, doado para a Fatec.
O professor Luiz Alberto Nolasco conta que receberam também em doação uma aeronave Guri que fez um único voo e teve o trem de pouso quebrado. “Os alunos utilizam todos esses equipamentos. Porém, o principal foco não é a formação mecânica, mas a educação para a gestão dos processos de manutenção”. Nolasco explica que o currículo tem um viés altamente tecnológico, uma vez que a aviação sempre foi pioneira em inovação. “As tecnologias em desenvolvimento passam pelo setor aeronáutico primeiro e só depois vão para a indústria em geral”. Ele cita como exemplo o projeto eVTOL, da Eve Air Mobility, empresa de mobilidade aérea urbana da Embraer. A aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical, chamada de “carro voador”, foi apresentada no ano passado em uma feira na Inglaterra e já é objeto de estudo das turmas deste ano.
As parcerias com o setor produtivo são um ponto forte do curso: os alunos desenvolvem projetos em conjunto com especialistas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), de empresas de engenharia aeroespacial como Akaer e Aernnova, entre outras, além da própria Embraer. “Essas oportunidades de conhecimento e relacionamento mudaram minha vida”, conta Carlos Eduardo Silva. Aficionado por tecnologia, ele já trabalhava como técnico em eletromecânica quando iniciou o curso na Fatec SJC. Formado em julho deste ano, ele é o único técnico especialista aeronáutico do Grupo Tramontina Garibaldi.
“Sou responsável por desenvolver projetos de organizadores modulares e ferramentas manuais para o segmento aeronáutico e aeroespacial, principalmente nas unidades da Embraer e estou trabalhando no projeto eVTOL, na especificação de ferramentas para a manufatura dessas aeronaves”, conta Silva. O curso da Fatec, que ele conheceu por anúncio na TV, foi o responsável por abrir as portas dessa carreira que ele segue com sucesso: “Era tudo que eu esperava e um pouco mais”. Seu TCC foi sobre uma tecnologia de geolocalização que indica onde estão determinadas ferramentas em um hangar. O trabalho já foi defendido, aprovado e o protótipo já está em teste.