Nas Etecs e Fatecs, educação transforma também a vida de idosos

No projeto Psicanálise e Arte, Fatec Ipiranga organiza atividades e experiências culturais que estimulam a socialização l Foto: Divulgação

Educação não tem idade. É o que mostram iniciativas das unidades do Centro Paula Souza direcionadas aos que voltaram às salas de aula após décadas. Neste Dia Nacional do Idoso e Dia Internacional da Terceira Idade, conheça projetos que provam que o aprendizado pode acontecer em qualquer fase da vida.

Um exemplo é o engenheiro civil aposentado José Francisco Buda, de 65 anos, aluno do curso técnico de Teatro da Escola Técnica Estadual (Etec) de Artes, localizada na Capital. Apaixonado pela atuação desde jovem, decidiu buscar a formação técnica. “No início, fiquei receoso, achava que estaria ocupando a vaga de alguém mais jovem. Fiz o Vestibulinho, entrei e fui muito bem recebido pela turma”, conta.

Ele afirma que a experiência tem sido transformadora, tanto no aprendizado da arte quanto na convivência, e que nunca é tarde para buscar fazer o que gostamos: “Algumas coisas que faço em sala me surpreendem. Penso: um homem de 65 anos se jogando no fazer teatral. Estou aprendendo muito, não só sobre teatro, mas também sobre relações sociais e sobre mundos diferentes.”

Sonho e realização

O sonho de entrar no Ensino Superior acompanhou Vera Lúcia Conceição, de 62 anos, por décadas. “Mãe solo”, dedicada à criação dos filhos, concluiu o Ensino de Jovens e Adultos (EJA) em 2019 e, no ano seguinte, tentou uma vaga no Vestibular para o curso de Gestão Empresarial da Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Indaiatuba – Dr. Archimedes Lammoglia. 

Uma lesão no braço, que dificultou a escrita durante a prova, a impediu de ser selecionada naquele momento. “Eu fiz a redação com poucas linhas porque não conseguia escrever. Não passei. Mas voltei no semestre seguinte, pedi auxílio e consegui. Foi um dos dias mais marcantes da minha vida”, lembra.

Vera reconhece que o início foi desafiador, pois acreditava que não daria conta de acompanhar o curso.  “Estava em uma sala com muitos alunos jovens e precisei me adaptar. Mas aos poucos fui entendendo que era capaz e hoje estou no terceiro semestre. Me sinto orgulhosa, principalmente quando percebo que posso conversar sobre as matérias com colegas bem mais novos que eu. Isso mostra que a idade não é um impedimento para aprender”, afirma.

Autonomia e comunicação

Desde 2010, a Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Baixada Santista – Rubens Lara, desenvolve em Santos o projeto Nova Era – Melhor Idade, que oferece aulas de informática, cursos de idiomas e atividades culturais para a comunidade. A iniciativa nasceu com foco no uso do computador como ferramenta de autonomia e comunicação, mas evoluiu ao longo dos anos para atender melhor às necessidades dos idosos. 

Marilene Lacerda, coordenadora do projeto, explica que a ideia inicial era utilizar o aprendizado em informática para reduzir o isolamento social e auxiliar na independência. “Com o tempo, percebemos a importância da socialização e ampliamos para atividades como idiomas, com cursos de inglês, espanhol e italiano, orientações sobre economia doméstica e ações culturais. Hoje priorizamos o convívio, tanto presencial quanto online”, frisa.

Entre outras ações de destaque do projeto estão a tarde de leitura de contos e poesias, oficina de mandalas e palestras sobre temas atuais, como inteligência artificial. “Descobri que a tecnologia pode ser uma aliada. Saí com vontade de usar novos recursos no meu dia a dia”, comenta Carlos Braga Souza, de 59 anos. Já para Maria Aparecida Holanda, de 65 anos, a atividade literária foi marcante: “Cada texto lido foi como uma conversa com o tempo. Histórias que nos fizeram rir, refletir e lembrar.”

Democratização do saber

Com iniciativas que unem aprendizado, acolhimento e inclusão, a Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Ipiranga – Pastor Enéas Tognini também tem realizado atividades especiais para idosos, na Capital. Entre os projetos oferecidos estão o Inglês 5.0, voltado para iniciantes e alunos em continuidade, o curso de Informática para a Terceira Idade, com foco na autonomia digital, e o projeto Psicanálise e Arte, que propõe rodas de conversa e experiências culturais.

A coordenadora da unidade, Fabiana Serralha, destaca que a iniciativa nasceu de uma escuta atenta às demandas da comunidade e do reconhecimento de que aprender é um direito em todas as fases da vida. “Muitos chegam inseguros diante da tecnologia ou do idioma estrangeiro, mas ao longo das aulas se transformam. Ganham confiança, descobrem novas possibilidades e mostram que a maturidade é também um tempo de conquistas. Esse trabalho reafirma o compromisso da Fatec Ipiranga com a inclusão e a democratização do saber”, frisa.

Telma Baroni, de 70 anos, é uma das frequentadoras do projeto que sente os resultados no dia a dia. Para ela, além dos benefícios sociais, cognitivos e culturais, há o aumento da autoestima e o sentimento de realização ao se sentir parte de um grupo ativo.