Ele nasceu na zona rural e na Etec descobriu um mundo de possibilidades; hoje, em seu doutorado em Cambridge, estuda tecnologias emergentes
Iago vem marcando presença em várias partes do mundo, como se pode ver na ilustração e na galeria de fotos (abaixo) | Foto: Divulgação
Até 2009, Iago Bojczuk era um menino como tantos outros que vivem na zona rural de Atibaia. Hoje é aluno do terceiro ano de doutorado da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Graduado em Estudos de Mídia pela Universidade do Oregon, em 2018, completou o mestrado em Estudos Comparativos de Mídia na Escola de Humanidades, Artes e Ciências Sociais, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em 2020 – instituições estadunidenses de renome onde estudou com bolsa integral. Toda essa trajetória começou na Escola Técnica Estadual (Etec) Prof. Carmine Biagio Tundisi, de Atibaia, na Região de Campinas, interior de São Paulo.
O mundo se abriu de forma nova e inusitada para o estudante, ao ser aprovado no Vestibulinho para o curso técnico em Administração da Etec. “Fiquei maravilhado com as instalações da escola, a diversidade de alunos e de trajetórias, além da dedicação de professores e funcionários”, conta.
Pareceu fácil, mas não foi. Para frequentar as aulas, um abaixo-assinado teve que ser protocolado na prefeitura de Atibaia solicitando uma linha de ônibus que viabilizasse a vida escolar dele e de outros colegas. Muitas pessoas do bairro se mobilizaram para garantir o acesso de Iago e dos demais alunos.
“Não havia nenhuma linha operando entre a Etec e o meu bairro durante o turno da noite. Quando as aulas acabavam e com a ajuda dos moradores, consegui o transporte público para frequentar as aulas noturnas”, lembra. A rotina do estudante, durante dois anos, foi chegar à Etec de manhã, para concluir o Ensino Médio, almoçar no restaurante popular ao lado da escola, ajudar alunos do Ensino Fundamental das escolas de Atibaia à tarde, e cursar o Técnico à noite.
“Ele sempre auxiliava os colegas que estavam em dificuldade, me ajudou a organizar a biblioteca e trouxe a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) para a cidade”, enumera Denize Auricchio Alvarenga da Silva, diretora da unidade, que qualifica Iago como um “aluno-referência”.
Educação como forma de combate às desigualdades
“Às vezes batia o desânimo, eu ficava muito cansado”, diz o estudante. O resultado do esforço se traduziu na conquista de vaga no vestibular de três universidades públicas. Só na Universidade de São Paulo (USP) ele foi classificado nos cursos de Física Computacional e Economia. Mas, a essa altura, estudar no exterior já havia se tornado uma prioridade.
A vontade de estudar fora ficou mais evidente na primeira vez que Iago colocou os pés em um aeroporto, em setembro de 2010, rumo aos Estados Unidos, com um grupo de cerca de 20 estudantes de Etecs selecionados, como ele, para passar um mês estudando inglês em Portland, no estado do Oregon. O intercâmbio foi promovido pelo Centro Paula Souza (CPS), autarquia que administra as Etecs e Faculdades de Tecnologia do Estado (Fatecs).
Em 2014, Iago foi aceito na Universidade do Oregon, com direito a uma bolsa integral. Depois disso, estava aberto o caminho que ele seguiria até Cambridge e a incursões a várias partes do mundo, do Japão (compondo o comitê juvenil da Organização das Nações Unidas) à Tanzânia (participando como instrutor em um programa para alunos de ciência da computação). E foram muitos lugares visitados, desde o período na Etec até o doutorado em Cambridge, como pode ser visto na galeria abaixo.
“Hoje, atuo como pesquisador associado a um projeto de pesquisa financiado pela Internet Society Foundation que busca tornar infraestruturas digitais ao redor do mundo mais sustentáveis”, diz.
Entre os países em que Iago esteve ao longo dos projetos de que participa já figurou a região nordeste do Brasil, parte do mesmo programa que o levou à Tanzânia. É a marca da personalidade do aluno, que Denize se recorda como alguém que valorizava tanto a escola quanto os colegas. Não parece ter mudado.
Iago tem a certeza de que “uma formação sólida permite aos alunos encarar desafios futuros com confiança e habilidade, munidos de uma visão crítica das desigualdades e das nuances de uma realidade cada vez mais interconectada e complexa”, diz o estudante que este ano fez a sua Matriculation Photo (última foto da galeria abaixo).
Na Universidades de Cambridge, essa imagem marca o instante em que o aluno se torna membro oficial de um dos 31 colleges da universidade. “É bem parecido com as casas do Harry Potter e algo muito apreciado aqui – uma espécie de rito de passagem, uma união que dura o resto da vida”, explica Iago. Ele não esquece o começo dessa trajetória: “o ensino público de excelência que recebi na Etec de Atibaia não apenas me capacitou para enfrentar os desafios de seguir o Ensino Superior – ela também sedimentou os alicerces para a minha vida”.