Da infância pobre para a USP: ex-aluna de Etec agora é advogada

Raíssa Pimenta, de 27 anos, que estudou na Escola Técnica Estadual de Casa Branca, fez parte da primeira turma da Faculdade de Direito do Largo São Francisco a receber cotistas

15 de fevereiro de 2023 11:11 am Institucional

A jovem de 27 anos, em destaque, ao lado dos colegas, no dia de um dos eventos de formatura da turma 191 | Foto: Acervo pessoal

Circulou na internet há alguns dias uma foto de formandos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). A turma 191, que concluiu os estudos no final de 2022, foi a primeira do curso a ter alunos cotistas. Uma das jovens que aparece na imagem é Raíssa Cristina Pimenta, de 27 anos, ex-aluna da Etec Dr. Francisco Nogueira de Lima, de Casa Branca, Região de Campinas.

Chegar à formatura envolveu muitas batalhas, mas Raíssa sempre teve certeza de estar no caminho certo e se empenhou muito para conquistar o que queria. Depois de concluir o Ensino Médio e o curso técnico de Marketing na Etec, ela ingressou no curso de Letras, no campus de Araraquara da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Mas não era ali que ela gostaria de estar. Em 2017, parou tudo e estudou para o vestibular da faculdade do Largo São Francisco usando os cadernos que guardou das aulas na Escola Técnica e material de cursinho cedido por amigos.

No ano seguinte, aprovada na Fuvest, ela saiu de Casa Branca com destino à Capital, sem dinheiro, sem trabalho e sem uma família que pudesse bancar suas despesas. A namorada de um primo distante a recebeu em casa e a melhor amiga pagou a passagem. “Minha meta era conseguir um emprego em telemarketing, moradia da universidade e tocar o curso até o final”, lembra.

Só que o destino tinha outros planos para Raíssa. O currículo, colocado em um site, foi localizado por um dos maiores escritórios de advocacia de São Paulo, o Pinheiro Neto Advogados, e ela, convidada a participar de um processo seletivo. “Eu comprei uma roupa que usei em todas as etapas da seleção porque era a única que eu tinha”, relembra. “Me senti deslocada perto de tanta gente bem-vestida e achei que não seria escolhida.”

Raíssa passou três anos trabalhando no escritório famoso e, em janeiro de 2021, foi para o Twitter. No final de 2022, um chefe a indicou para uma vaga no Nubank, onde ela trabalha atualmente. Como passa a maior parte do tempo em home office, a jovem está de mudança para Casa Branca.

Dignidade

A ex-aluna da Etec volta para casa pensando em ajudar a família. A mãe, Elaine, trabalha na roça, identificando pragas. “Aprendi com ela uma lição que nunca esqueci: quando a gente se dispõe a fazer algo, é preciso fazer bem-feito, com comprometimento, pela nossa dignidade”, conta a advogada.

Além da lição de dona Elaine, Raíssa também carregou com ela o que aprendeu na Escola Técnica. “Na Etec, você tem de estudar, é preciso atingir um padrão de excelência. Foi lá que eu aprendi a ter disciplina e cheguei muito preparada na faculdade.”

A quem sonha alto como ela, a jovem advogada dá um conselho: “Tenha seriedade e identifique quem quer te ajudar. Tudo vai se encaixando. Se eu tivesse me apegado à minha infância pobre, eu não teria acreditado e tentado estudar na São Francisco.”

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