Bibliotecária e professora de Etecs estimulam o amor pela literatura

Mariângela e Odete: ações incentivam novos leitores e identificam gosto literário dos alunos | Foto: Divulgação

Uma das primeiras coisas que Odete Ernestina Pereira fez ao chegar à biblioteca da Escola Técnica Estadual (Etec) André Bogasian, de Osasco, foi deixar à disposição dos alunos uma máquina de escrever. “Queria que eles entendessem o processo de escrita de muitos dos autores que eles leem”, conta Odete, bibliotecária da unidade.

A máquina foi o ponto de partida para uma série de atividades que vêm atraindo a atenção dos estudantes, que apresentam um rol de interesses vasto e variado. Uma das ações foi associar filmes aos livros que os inspiraram, com direito a sessão de cinema na própria sala que serve de biblioteca.

Os títulos Coraline e Blade Runner tiveram a procura intensificada por essa iniciativa. Mas foi Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, autora inglesa do século 18, que provocou maior alvoroço. “As alunas ficaram interessadas, até por não entenderam tamanha formalidade”, explica a bibliotecária.“Nessas horas, é preciso contextualizar a trama”.

Telas aliadas

A contextualização é necessária em vários momentos: o imperador romano Marco Aurélio, assim como o clássico O Príncipe, de Maquiavel, já estiveram no radar dos estudantes. O interesse pode ter nascido, por incrível que pareça, em uma rede como TikTok. Odete conta que quando a atriz australiana Kate Blanchett se declarou leitora de Clarice Lispector, a busca pelos livros da autora brasileira aumentou, mostrando que as telas podem ser aliadas e não inimigas da turma mais jovem.

Conceição Evaristo, Racionais, Machado de Assis e o norte-americano Rick Riordan, autor de Percy Jackson e os Olimpianos – obra em cinco volumes que traz a mitologia grega para o século 21 – compõem a galeria eclética de interesses dos alunos da unidade, ao lado de livros de aventura e daqueles que descrevem sociedades distópicas.

Outra iniciativa envolveu livros que eram embrulhados em papel kraft com inscrições feitas pelos leitores a respeito do título oculto. “Eles criaram o kinder livro, que se transformou em uma surpresa para quem o retirasse”, diverte-se Odete.

Patronos

Na Etec Profª Therezinha Monteiro dos Santos, de Taquarituba, as turmas não são conhecidas por letras ou números, mas por um patrono. O primeiro foi Machado de Assis. E já se passaram 21 anos dessa iniciativa.“Usamos escritores ou grandes nomes da história nacional que fizeram e ainda fazem a diferença, incluindo autores que estão em evidência e os que são solicitados nos vestibulares”, assinala Mariângela Alvarez professora de Recursos Humanos, graduada em psicologia e pedagogia. A cada ano a vida dos patronos é encenada pelos estudantes.

Uma caixa de sugestão de títulos fica à disposição da turma, interessada em vários gêneros literários. “Encaminhamos as solicitações à Associação de Pais e Mestres ou ao Grêmio Estudantil, para novas aquisições”, diz, Mariângela, empenhada em fazer novos leitores.

Contato visual

Há ainda o Projeto Leitura, que pode ser a conversa com um escritor convidado ou um painel criado pelos estudantes, destacando autores e suas obras. Batizadas de Estações Literárias, esses pequenos e caprichados estandes já homenagearam os romancistas Itamar Vieira Jr. e Graciliano Ramos, entre muitos outros.

Pouco antes dos períodos de férias ou de feriados a biblioteca repete a campanha Adote um Livro. “Para estimular leitores adormecidos”, conta Mariângela.

Nesses dias, a professora disponibiliza vários livros nas mesas da biblioteca para que os estudantes olhem e manuseiem. Depois disso, é comum eles fazerem a locação, provando o apelo do livro físico. “O contato visual, o tato e a curiosidade sempre dão certo”, constata a educadora.

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