Três unidades devem promover experiências em breve: Júlio Cardoso, de Franca; Jorge Street, de São Caetano do Sul; e Júlio de Mesquita, de Santo André
Iniciativa ensina, entre outras coisas, oratória, argumentação e a busca por uma solução pacífica | Foto: Freepik
Defender um ponto de vista que não é o seu, com firmeza e argumentos bem fundamentados, é só uma das situações desafiadoras apresentadas aos estudantes pelo Monuem. Sigla de Modelo de Simulação da ONU para o Ensino Médio, o projeto foi criado pelo Escritório de Representação do Ministério das Relações Exteriores de São Paulo (Eresp) para dar desenvoltura aos estudantes das escolas públicas estaduais e municipais. Cabe aos alunos simular, da forma mais realista possível, uma assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU). É assim que, representando determinado país, eles desenvolvem a oratória e a capacidade de argumentação, criam uma visão mais ampla do mundo, procuram soluções pacíficas para os problemas, entendem a necessidade de estar preparados para uma arguição e, no caso apresentado no início do texto, exercitam a capacidade de entender os vários lados de uma questão.
“Essas são competências necessárias no mercado de trabalho, mas servem a qualquer pessoa no século 21”, resume Fabio Gomes que, ao lado de Judith Terreiro, ambos da Cetec Capacitações, coordena a parceria do Eresp com o Centro Paula Souza (CPS). Neste mês de abril, haverá simulação nas Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) Júlio Cardoso, de Franca; Jorge Street, de São Caetano do Sul; e Júlio de Mesquita, de Santo André.
O Monuem começou em 2017, quando a embaixadora Irene Vida Gala, do Eresp, foi convidada a assistir uma simulação em uma escola particular do Ensino Médio em São Paulo. “Achei genial e decidi pesquisar se havia alguma coisa parecida nas escolas públicas.” Só depois ela soube de uma ou outra iniciativa. “Mas não existia uma cultura de simulações nas escolas”, lembra. O segundo passo foi formar parcerias, porque só a equipe do Eresp, é claro, não seria suficiente para orientar os alunos, o que inclui o estudo do conteúdo e os debates. O grande final é a simulação.
Foi nesse momento que entraram o CPS e o Escritório de Relações Internacionais San Tiago Dantas – é este último parceiro que disponibiliza, por meio da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Pontifícia Universidade Católica (PUC), os estudantes de Relações Internacionais aptos a orientar os alunos inscritos no projeto.
“O que estamos fazendo é realmente novo. E o nosso foco não está no curso de Relações Internacionais e no Itamaraty. A contribuição do Monuem vai além: traz o cenário internacional para o aluno, porque todos os profissionais, de todas as áreas, precisam entender o mundo em que vivem”, diz Irene. “Essa experiência desenvolve capacidades socioemocionais, a habilidade de negociação, a empatia.”
O projeto foi formatado em 20 horas-aula que somam conteúdo e debates até culminar no grande dia: a simulação. Depois de muita pesquisa e treinamento, a sessão simulada da ONU acontece e é aberta a parceiros, convidados e familiares. Os alunos, nas bancadas, assumem a função de delegados, com uma placa informativa do país que representam. Neste ano, a pauta deve se orientar pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU.
Modelo para o mundo
No Brasil, as simulações já fazem parte de uma tradição nos colégios particulares e faculdades. O modelo original de simulação, criado na prestigiosa Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, data de 1955 e é conhecido como Harvard National Model United Nations (HNMUN).
O Monuem está sendo implantado de forma a se estruturar para ter uma longa vida e chegar ao currículo escolar. Para isso, precisa formar professores. Nas Etecs, está sendo implementado com uma estratégia bem definida: as turmas são formadas, nesta primeira edição, entre alunos do 1° e do 2° ano. Assim, eles podem transmitir o conhecimento e o know-how adquiridos aos estudantes que chegarem depois. “No segundo semestre, vamos capacitar nossos professores com o conteúdo do Monuem para que deem continuidade às simulações e apliquem o conhecimento em suas disciplinas”, conta Judith Terreiro.
Um novo corpo diplomático
“Podem as mulheres ocupar cargos públicos?” A pergunta surgiu no Jornal Última Hora em 1918 e tinha endereço certo: Maria José Rebello de Castro, que aos 18 anos, em 1918, se tornou a primeira mulher a ocupar um cargo no Itamaraty. Cem anos depois, a pergunta ressurgiu no documentário “Exteriores: Mulheres Brasileiras na Diplomacia”, dirigido por Ivana Diniz e disponível no Youtube.
Se o Monuem não foi criado para estimular a carreira diplomática, esse é um “efeito colateral” bastante positivo porque mostra a um público quase sempre apartado do Itamaraty – mulheres e negros – o que essa carreira tem a oferecer também a eles. Com esse projeto, em um país de boa tradição diplomática, como é o caso do Brasil, alunos e alunas que se sinta interessados em uma carreira no Itamaraty têm agora à disposição uma ferramenta para que a corrida, ainda que árdua, tenha menos obstáculos.