A Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Nilo de Stéfani, em Jabotical, vai receber financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para desenvolver um estudo sobre a qualidade dos […]
Queimadas devem ser extintas do Estado até 2021
A Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Nilo de Stéfani, em Jabotical, vai receber financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para desenvolver um estudo sobre a qualidade dos produtos obtidos a partir da cana-de-açúcar sem o processo de queima, procedimento que deve ser proibido no Estado até 2021. O projeto pretende analisar a qualidade do xarope (que vai virar açúcar) e do vinho (para produzir o álcool) extraídos da planta.
Com isso, será possível entender os impactos que o novo processo de colheita acarreta sobre os produtos, já que a mecanização dos procedimentos e o ato de picar a cana antes do transporte aumentam a incidência de impurezas, enquanto a exposição da cana em frações aumenta o risco de mudanças químicas, prejudicando a obtenção do açúcar e do álcool.
A pesquisa da Fatec poderá apontar eventuais necessidades de adaptação dos procedimentos adotados pelas usinas e orientar para a melhora dos processos produtivos.
“A extinção da queima da cana é um passo irreversível. Do ponto de vista da agronomia, só há benefícios. A manutenção da cana crua reduz a emissão de poluentes e aumenta a fertilidade do solo. Mas essa mudança vai requerer adaptações no processo produtivo que precisamos ser identificadas”, explica o coordenador da pesquisa, professor Leonardo Lucas Madaleno.
Tendência
O fim das queimadas nos canaviais é uma tendência mundial já aplicada em países como Argentina e Austrália, e regiões novas no ramo sucroenergético, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
A substituição do trabalho humano na colheita também pode ser repensada a partir das respostas obtidas pelo estudo, acredita Madaleno. A ação dos trabalhadores rurais era a principal razão para o menor número de impurezas na cana-de-açúcar colhida.
“O trabalho nos canaviais é muito difícil e exaustivo. Mas, durante o processo como um todo, a mão-de-obra ainda é necessária e poderá ser melhor distribuída. Algumas usinas já estão treinando seus funcionários para operar o maquinário e essa capacitação aumenta a renda do trabalhador.”
O Estado de São Paulo é o maior produtor de cana do País, e responde por cerca de 50% da produção nacional, segundo pesquisa da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) publicada em 2014.
Experimentos
A metodologia que será utilizada foi desenvolvida por Madaleno em seu doutorado. “Há diversos estudos sobre a qualidade da matéria-prima para o etanol e o açúcar, mas eles utilizam a cana que passa pela queima e não a cana crua, como chamamos. A partir daí, bolamos um experimento que simula um armazenamento, extrai o caldo e estuda os efeitos dessa colheita na produção.”
O interesse em desenvolver os estudos levou a uma parceria com a Usina Santa Fé, na cidade de Nova Europa, que oferece a matéria-prima. A equipe técnica da empresa incentivou o envio do projeto à Fapesp. A ajuda da fundação vai complementar a estrutura da Fatec, que, por abrigar o curso de Biocombustíveis, já está preparada para todos os procedimentos de tratamento e transformação da matéria-prima em xarope e vinho.
“Com o financiamento, vamos conseguir comprar uma bomba de vácuo muito resistente. A Fapesp também vai pagar o transporte da cana colhida em Nova Europa para ser tratada na faculdade”, explica o pesquisador. O convênio vai durar dois anos, mas respostas parciais devem ser publicadas ao longo do processo em revistas científicas.
Legado
A pesquisa é desenvolvida dentro da Fatec, com grande envolvimento dos estudantes de todos os módulos da graduação em Biocombustíveis. Eles são orientados em estágios voluntários por professores e auxiliares técnicos e incentivados a desenvolver Trabalhos de Graduação sobre o tema.
“Não imaginava que chegaria a resultados como a aprovação pela Fapesp”, conta a aluna Bruna Viola, que está terminando seu Trabalho de Graduação sobre os primeiros experimentos coordenados por Madaleno. “O estudo vai trazer muitos benefícios para os produtores, como otimizar o trabalho”, diz a estudante, que trabalha no setor de controle de fornecedores de uma usina.
A aprovação do projeto pela Fapesp também está incentivando outros docentes a inscreverem seus trabalhos em busca de financiamento e desenvolvimento.
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