Com formações práticas e parcerias, estudantes dos cursos de Jogos Digitais desenvolvem projetos que integram empreendedorismo, diversidade e sustentabilidade
Fatec Americana une ‘storytelling’, ‘design’ e programação, formando criadores de ‘games’ prontos para o mercado l Foto: Divulgação
Nesta sexta-feira (29), quando é celebrado o Dia Internacional dos Gamers, estudantes das Faculdades de Tecnologia do Estado (Fatecs) do Centro Paula Souza (CPS) mostram como a formação acadêmica pode contribuir para o avanço da área. Projetos desenvolvidos nos cursos de Jogos Digitais vêm ganhando espaço no mercado, em instituições públicas e eventos especializados, com propostas voltadas à inovação, inclusão e solução de problemas reais.
Na Fatec Americana – Ministro Ralph Biasi, os alunos são incentivados a atuar tanto em empresas quanto na criação de startups. A formação é interdisciplinar em áreas como programação, design, storytelling, arte digital e gestão de projetos.
Além disso, os jovens participam de desafios e desenvolvem jogos com ferramentas utilizadas pelo mercado. “Contamos com uma parceria com a Secretaria do Meio Ambiente de Americana para o desenvolvimento de um game de responsabilidade ecológica e sustentabilidade ambiental. Também atuamos em conjunto com empresas da região, como a Mercedes-Benz, para elaborar jogos para treinamentos e capacitações de funcionários”, afirma Renato Kraide Soffner, coordenador do curso.
Há casos ainda de projetos selecionados em programas governamentais de fomento, como o Spooky Workers, desenvolvido no gênero puzzle-platform (que combina elementos de jogos de plataforma com desafios de quebra-cabeça), com participação dos alunos Denis Guilherme Ferreira Espanhol, Davi Teles e Henrique Marques, que receberam investimento por meio da Lei Paulo Gustavo no município de Santa Bárbara.
Além das parcerias institucionais, estudantes da Fatec Americana já publicaram jogos em plataformas como o itch.io (marketplace aberto para criadores digitais divulgarem games independentes) e o Google Play, transformando os projetos acadêmicos em produtos acessíveis ao público.
Realidade da periferia
Na Fatec Carapicuíba, o programa é estruturado a partir do Sistema Maximizado de Avaliação Unificada em Games (Smaug), que integra conteúdos de cada semestre por meio da criação de jogos. Os alunos usam metodologias ágeis como Scrum e Aprendizagem Baseada em Projetos e são reunidos em equipes com habilidades heterogêneas.
Os estudantes desenvolvem, em média, entre 70 e 80 projetos a cada semestre e formam um portfólio com foco em empregabilidade e empreendedorismo. “O curso já conta com 974 jogos criados desde 2018, sendo os melhores publicados no site SiJOGA”, explica o coordenador do curso, Carlos Alberto Paiva. Entre os destaques estão os games Ilis, sobre violência doméstica, e Versos da Quebrada, que aborda o cotidiano da periferia.
Criado pelos alunos Tayla Caroline Dantas e Mario Henrique Silva, Illis, que signfica “por elas” em latim, é um jogo em realidade aumentada que propõe uma reflexão sobre o feminicídio. No enredo, Marie e John, personagens do livro Queimem as Bruxas, escrito pelos autores do game, são os protagonistas e percebem que, após séculos de caça às bruxas, as mulheres ainda continuam sendo perseguidas sem nenhum motivo. A partir daí, o casal precisa avançar pelos cenários, salvando as vítimas de ataques dos inimigos.
Já em Versos da Quebrada, o jogador percorre cenários inspirados na estética de ruas e vielas das periferias brasileiras, enfrentando desafios que remetem ao dia a dia da comunidade. A mecânica desenvolvida pelos alunos Bruno Silva, Layon Lima, Willian Nishimura e Felipe Stocker combina minigames de ritmo (pequenos jogos em um jogo maior), batalhas de rima e puzzles narrativos (estruturas de histórias não-lineares), em que a protagonista precisa conciliar a rotina de jovem periférica com sua paixão por literatura e pelas brincadeiras que marcaram sua infância.
Os projetos envolvem a elaboração de um pitch, vídeo de até cinco minutos no qual os alunos apresentam seu produto para um potencial investidor. “Com isso, os jovens adquirem, na prática, a vivência no mercado de trabalho, lidando com prazos, conflitos e trabalho em equipe”, pontua Paiva. Alguns desses games foram apresentados, também, em eventos como a Campus Party, a Semana GeekSP e o Global Game Jam.
Estúdios próprios
Na Fatec São Caetano do Sul – Antonio Russo, os jogos fazem parte de uma formação multidisciplinar baseada em computação, matemática e áreas complementares como comunicação, empreendedorismo e ética.
Um projeto recente foi o São Paulo Racers, um jogo de corrida ambientado em uma região da Capital. A proposta foi contemplada pelo edital de aceleração e residência da primeira edição do Sampa Games, iniciativa da Ade Sampa, a agência de desenvolvimento da Prefeitura de São Paulo. Entre os trabalhos mais antigos, destaca-se o GP Kids, no qual os alunos criaram um jogo de corrida para crianças que era conectado e controlava um carro físico construído por eles, com todo o mecanismo de pilotagem.
O coordenador do curso, Alan Henrique Pardo de Carvalho, salienta que os estudantes são estimulados a dar continuidade ao desenvolvimento dos jogos ou utilizá-los como base e inspiração para o desenvolvimento de outros projetos. Dois exemplos são o Wreak The Havoc, um game de duelo 2D de partidas rápidas e casuais, e o Final Jam, que deu origem à série BasCatball, ambos lançados oficialmente na plataforma digital Steam por estúdios formados por alunos do curso.
A partir do primeiro semestre de 2024, os trabalhos passaram a fazer parte de um projeto de extensão do curso que tem como objetivo permitir maior conscientização sobre temas como educação ambiental, direitos humanos, relações étnico-raciais e história e cultura afro-brasileira, africana e indígena. “Mantemos, também, uma página no itch.io para divulgar os jogos produzidos pelos alunos, com o objetivo de ampliar o acesso da sociedade às iniciativas desenvolvidas.”