Haidê se encantou pelos livros ainda na infância, quando já trabalhava em casa de família; decidida a mudar de vida, fez faculdade, especialização e já completa o mestrado
Responsável pela biblioteca da Etec Orlando Quagliato, de Santa Cruz do Rio Pardo, Haidê criou o ‘Café Literário’ | Arte: Divulgação
Aos 12 anos, Haidê Augusta da Rosa já trabalhava como doméstica. Na família de sete filhos, a mãe se dedicava à casa e ao irmão mais novo, com uma grave deficiência física. O pai, coletor de lixo, era seu grande parceiro.
“Minha mãe era minha rainha, mas tinha pouco tempo livre. Fiquei muito próxima do meu pai. Todas as noites ele lia contos de fada e histórias folclóricas até eu dormir”, conta Haidê, hoje com 62 anos.
Os primeiros livros foram exemplares que o pai encontrava no lixo, foi amor à primeira vista. Conheceu os autores romancistas brasileiros ainda na juventude. Transitou cedo pelos clássicos literários e principais jornais impressos do País.
“Fiz os ensinos Fundamental e Médio em período noturno. Durante o dia, trabalhava em casa de família. Meus pais viviam na zona rural de Assis. Então eu ficava na casa da patroa, o que foi uma grande sorte”, conta. “Para abrir espaço na sala de visitas, ela colocou no meu quartinho coleções inteiras de Machado de Assis, José de Alencar, Érico Veríssimo, Jorge Amado e Monteiro Lobato. Eu lia tudo”, explica.
Biblioteconomia
Aos 17 anos, foi sexta colocada no vestibular para Biblioteconomia, da Universidade Estadual de Londrina, e foi viver sozinha no Paraná. Começou a trabalhar como doméstica na casa de uma família dona de tecelagem, pouco tempo depois, assumiu uma função na fábrica.
“Comecei a organizar peças e ajudar as costureiras. Eles viram que eu tinha potencial. Virei uma espécie de gerente, administrando as entradas e saídas, minha primeira experiência fora da faxina”, diz.
Formada, voltou ao Estado de São Paulo, deu um giro pelas bibliotecas do interior até chegar à Escola Técnica Estadual (Etec) Orlando Quagliato, de Santa Cruz do Rio Pardo. Ali, criou ações de impacto entre os estudantes, como o Café Literário.
“Conseguimos aproximar do mundo das letras outros jovens humildes, assim como eu fui. Esse é meu maior prazer. Antes eu viajava só através dos livros. Hoje consigo visitar museus e países graças aos livros”, concluiu.