Professores e aluna de Escolas Técnicas Estaduais (Etecs), localizadas em áreas rurais, relatam como cursos técnicos permitiram contribuir com o desenvolvimento do setor
De projetos inovadores em cultivo à valorização da agricultura familiar, escolas agrícolas mudam rotina do campo | Foto: Gastão Guedes
No Dia da Agricultura, celebrado nesta sexta-feira (17), histórias de quem vive o ambiente das escolas agrícolas mostram como o Ensino Técnico tem impulsionado o desenvolvimento sustentável no campo paulista. De projetos inovadores em cultivo à valorização da agricultura familiar, essas unidades são espaços onde conhecimento, prática e tradição se encontram para transformar realidades.
Atualmente, das 228 Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) administradas pelo Centro Paula Souza, 34 são classificadas como escolas agrícolas, distribuídas por todas as regiões do Estado. Localizadas em áreas rurais, essas unidades são referência em cursos tradicionais ligados ao campo e, ao mesmo tempo, incorporam novas tecnologias e tendências de mercado para acompanhar as demandas do setor.
Uma vida dedicada à escola agrícola
Há mais de cinco décadas, a trajetória de Antonio Donizeti Sonego se confunde com a história da Etec Padre José Nunes Dias, localizada em Monte Aprazível, no interior de São Paulo. Formado pela unidade no curso técnico em Agricultura em 1974, ele voltou à escola em 1980 como professor e nunca mais saiu. Desde então, ajudou a formar milhares de profissionais que hoje contribuem com o setor agrícola da região de São José do Rio Preto.
Mais do que lecionar, Antonio dedica sua carreira a unir Ensino Técnico e inovação no campo. Um de seus projetos mais emblemáticos é a propagação rápida in vivo de mudas de bananeira livres de doenças, considerada uma alternativa mais acessível à produção in vitro, realizada em laboratório e com alto custo. A técnica permite que o produtor receba mudas sadias e, com elas, informações sobre como cultivar de forma eficiente em sua propriedade.
“Essa metodologia facilita o intercâmbio de plantas sadias entre regiões e promove a transferência de tecnologia, envolvendo alunos, professores e agricultores”, explica Antonio.
Outro trabalho desenvolvido na unidade comprova a adaptabilidade da baunilha ao clima do Noroeste Paulista. Considerada a segunda especiaria mais cara do mundo, a baunilha tem sido cultivada desde 2019 por meio de dois sistemas: com seringueira em Sistemas Agroflorestais (SAF) e em ambiente protegido, com 70% de sombreamento, que é ideal para seu desenvolvimento.
“Acredito que o cultivo da baunilha vai ajudar na diversificação de cultura para o produtor familiar”, afirma. A pesquisa busca ampliar as alternativas de renda para pequenos agricultores, fortalecendo a produção regional e gerando novas oportunidades no campo.
Educação que fortalece comunidades rurais
Além da formação técnica, as escolas agrícolas mantêm forte vínculo com as comunidades locais. Um exemplo está na Etec Sebastiana Augusta de Moraes, em Andradina, onde cursos utilizam o modelo de pedagogia da alternância, sendo uma semana na escola e outra em casa. O regime permite que estudantes apliquem imediatamente no campo os conhecimentos adquiridos em sala de aula.
É o caso de Raiani Montalvão da Rocha Teixeira, estudante que vive em um assentamento rural e cursa o 2º ano do Ensino Médio com habilitação profissional no Técnico em Agropecuária. Ao lado da família, ela utiliza o que aprende na escola para melhorar a produção da propriedade. “A gente consegue colocar em prática tudo o que aprende dentro da fazenda, ajudando no desenvolvimento da agricultura familiar e compartilhando esse conhecimento com outras pessoas do assentamento”, conta.
A jovem lembra que a escolha pela formação técnica numa escola agrícola surgiu justamente do seu desejo de aprofundar o seu conhecimento. “Eu já praticava muitas coisas onde moro, mas agora tenho tido a chance de aprender mais técnicas, seja em processos de adubação ou na forma correta de cuidar das plantações”, relata. “E o melhor de tudo é que consigo compartilhar essas informações com meus pais.”
Desenvolvimento sustentável
Coordenadora de projetos da Coordenadoria Geral de Ensino Médio e Técnico (CGETEC), a professora Adriana Nunes explica que as escolas agrícolas são espaços estratégicos para promover a inovação e o desenvolvimento sustentável no campo, ao mesmo tempo em que valorizam saberes tradicionais e fortalecem comunidades rurais. “Por meio de projetos práticos, pesquisa aplicada e formação técnica de qualidade, alunos e professores ajudam a renovar a agricultura paulista de forma mais produtiva, inclusiva e conectada ao futuro”, afirma.
Vestibulinho
As inscrições para o Vestibulinho das Etecs, incluindo as unidades agrícolas, com início das turmas no primeiro semestre de 2026, estão abertas até 3 de novembro, exclusivamente pelo site vestibulinho.etec.sp.gov.br. A taxa de inscrição é de R$ 29.
Ao todo, o processo seletivo das Etecs oferece 92.355 vagas, distribuídas entre 228 unidades e classes descentralizadas em todo o Estado de São Paulo.