CPS apresenta projetos pela equidade no Dia da Mulher

Etecs e Fatecs desenvolvem soluções de combate à violência e à discriminação de gênero; algumas delas já estão sendo colocadas em prática e dando resultados

8 de março de 2021 10:23 am Etec, Fatec

Alunas da Etec Getúlio Vargas, da Capital, participam do coletivo Nós Marias e lançam livro de contos | Foto: Divulgação

O Centro Paula Souza comemora o Dia Internacional da Mulher mostrando a produção dos alunos das Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) e Faculdades de Tecnologia do Estado (Fatecs) que, inspirados na temática feminina, estão contribuindo para o avanço da igualdade de gênero. É o caso das estudantes que estão pesquisando como o atendimento do técnico de Enfermagem às vítimas de violência doméstica e aos transgêneros pode ser mais humanizado e assertivo. 

Do concurso literário realizado para meninas do ensino médio que premiou 17 contos publicados num livro pela editora Jandaíra. E de outros projetos que estão rodando como as plataformas tecnológicas para prevenir e reduzir a violência contra a mulher.

Vale conferir ainda os casos de superação de mulheres que se formaram nas Etecs e Fatecs e hoje são empreendedoras. Conheça abaixo algumas dessas histórias.

Jogo da vida

Os desenvolvedores de games, Tayla Dantas e Mario Henrique Silva, – egressos do curso de tecnologia de Jogos Digitais da Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Carapicuíba, criaram o game Illi para o sistema Android e atualmente desenvolvem a segunda versão da franquia, o Illis por Elas.

As personagens do novo jogo Maria da Penha, Carolina Dieckmann, Joanna Maranhão e Lola Aronovich ganharam nomes de protagonistas que inspiraram as leis de proteção à mulher. “Essa referência lúdica é uma forma leve e divertida de aproximar as pessoas de uma temática pesada que é a violência de gênero”, argumenta a professora da Fatec e parceira no novo projeto, Erika Caramello.

O roteiro dos jogos conta com cinco fases que retratam os tipos mais comuns de violência contra a mulher: física, sexual, psicológica, patrimonial e moral. “O Illis por Elas será mais acessível para as mulheres que não são gamers hardcore e para quem não possui um celular tão potente”, afirma Tayla.

A produção deste segundo jogo está sendo feita pelo estúdio Hyper Foccus da dupla Tayla e Mario, em parceria com a empresa Dyxel. Para viabilizá-lo, os empreendedores estão captando patrocinadores que tenham interesse em associar suas marcas a projetos de inovação com temas sociais.

Todas por Uma

A aplicação da tecnologia na prevenção e redução da violência inspirou também os estudantes do técnico de Desenvolvimento de Sistemas da Escola Técnica Estadual (Etec) Professor Horácio Augusto da Silveira que lançaram o aplicativo Todas por Uma. A ferramenta, que permite o envio por SMS da localização e do pedido de ajuda da vítima, foi desenvolvida por Bianca Santos, Carlos Andrade, Juan Freire, Mateus de Lima e Tiago Reis e lançada em 2020.

Entusiasmados com o alcance de mais de 15 mil downloads no Google Play Store, no período de cinco meses, alguns dos desenvolvedores do grupo partiram para a produção de outra ferramenta inteligente de segurança chamada Nice. O nome é uma homenagem à mãe de Mateus que foi vítima de violência doméstica. 

O Nice é um dispositivo do tamanho de uma bateria de relógio capaz de rastrear a localização da usuária que acionar o alarme de perigo e pedido de ajuda. O aviso de emergência não depende do uso do celular. Pelo tamanho mínimo de 3 cm por 2 cm, ele é discreto e de fácil manuseio podendo ser colocado na bolsa, na roupa ou em algum acessório que a mulher esteja usando.

Ex-aluno da Etec, Mateus Limas, desenvolveu as ferramentas Todas por Uma e Nice, recursos que ajudam no combate à violência contra mulheres | Foto: Divulgação
Ex-aluno da Etec, Mateus de Lima, desenvolveu as ferramentas Todas por Uma e Nice, recursos que ajudam no combate à violência contra mulheres | Foto: Divulgação

Cuidado com elas

A escalada da violência doméstica após a pandemia e o convívio com vítimas dessa barbárie despertaram nas alunas do curso técnico de Enfermagem da Etec Carolina Carinhato Sampaio, da Capital, indignação e vontade de colaborar com a solução do problema. Com este propósito, elas escolheram fazer o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre como os técnicos de Enfermagem prestam o atendimento primário à essas mulheres.

Para investigar o tema, serão feitas entrevistas com mulheres agredidas e com profissionais de saúde que trabalhem nas regiões de Guarapiranga e Jardim São Luiz – extremos da Zona Sul que concentram os índices mais altos de violência da Capital. 

O TCC pretende mostrar como o atendimento primário de técnicos de Enfermagem pode ser mais efetivo se a abordagem for humanizada e educativa. “O técnico que faz o primeiro atendimento pode identificar os sinais e registrar se houve agressão”, explica a orientadora e professora Erika Barjud.

“A orientação correta pode evitar novas agressões e o encaminhamento para o atendimento especializado, além de reduzir danos físicos e emocionais”.  O TCC das alunas Analia Menezes, Ana Lúcia do Monte, Carolina Mendes, Janaína Gomes e Rosana Rodrigues está previsto para ser apresentado no final deste primeiro semestre.

Na mesma Etec, outro grupo de alunas está fazendo o TCC para identificar possíveis falhas no atendimento primário aos pacientes transgêneros. Segundo a orientadora do projeto e professora, Efigênia Soares, as pesquisas de campo vão mapear como esse público vem sendo atendido. “Esse levantamento pode apresentar sugestões de como promover o acolhimento e a inclusão no atendimento primário aos transgêneros”. A equipe que está fazendo este TCC é formada por Ana Carolina Rodrigues, Cristina Nunes, Hellen Bianchini e Mitze Rodrigues.     

Dois projetos de estudantes da Etec Zona Sul pesquisam alternativas para melhorar o atendimento primário às vítimas de violência | Foto: Divulgação
Dois projetos de estudantes da Etec Zona Sul pesquisam alternativas para melhorar o atendimento primário às vítimas de violência | Foto: Divulgação

Meninas Poderosas

A escrita foi uma ferramenta poderosa para o coletivo Nós Marias desafiar adolescentes a refletirem e escreverem sobre os desafios e questões de gênero. Formado por 10 alunas da Etec Getúlio Vargas, esse grupo promoveu um concurso literário e selecionou 17 contos publicados no livro Meninas que Escrevem elançado em setembro de 2020, pela Editora Jandaíra. 

A estudante da Etec Clariana Monteiro – uma das integrantes do coletivo, ressalta que o concurso privilegiou textos de autoras jovens que tivessem um estilo de escrita mais interessante para adolescentes. “A ideia para este ano é continuar a divulgação online da obra na Etec GV e em outras escolas também”, afirma. Os contos abordam conflitos e situações comuns nesta faixa etária de quem está no ensino médio.

O livro Meninas que Escrevem ganhou divulgação também nas redes sociais da ONG Girl Up Brasil – movimento pela igualdade de gênero da Fundação das Nações Unidas (ONU). O coletivo Nós Marias é associado à Girl Up Brasil e participa das campanhas de conscientização para o fortalecimento das estudantes de nível médio.     

Química do Bem

Taynara Alves, ex-aluna da Fatec Sebrae e da Etec Getúlio Vargas, inovou na criação da startup InQuímica e desenvolvimento de um removedor líquido que elimina eventuais resíduos de metais pesados do agrotóxico de vegetais e frutas. O lançamento do produto foi adiado e aguarda aprovação da Anvisa.

Enquanto o produto não está nas prateleiras), Taynara planeja desenvolvimento de um demaquilante capaz de fazer a limpeza profunda na pele removendo os metais pesados presentes também na maquiagem. 

Com o projeto do removedor, a empreendedora participou de programas de aceleração Start Ambev e Vai Tech, da Prefeitura de São Paulo. O interesse da jovem pela área surgiu quando cursou o técnico de Química na Etec Getúlio Vargas e depois o bacharelado na mesma área, na Universidade Federal do ABC. “Fiquei motivada com a ideia de colocar a ciência a favor da sociedade e levar boas ideias para o mercado”, analisa Taynara. Convencida de que precisava de uma formação em negócios, ela cursou e concluiu uma segunda graduação em Gestão de Negócios, na Fatec Sebrae. 

A química Taynara Alves, formada pela Etec GV, Universidade Federal do ABC e Fatec Sebrae, criou uma startup para desenvolver soluções sustentáveis | Foto: Divulgação
A química Taynara Alves, formada pela Etec GV, Universidade Federal do ABC e Fatec Sebrae, criou uma startup para desenvolver soluções sustentáveis | Foto: Divulgação

Planos que transformam

A Etec Pirituba foi a escola pioneira em implantar a plataforma Plano de Menina de empoderamento de estudantes. A direção abriu a unidade para as atividades de conscientização sobre as diferentes possibilidades profissionais que as alunas podem alcançar e o poder da educação em reduzir as desigualdades de gênero e social. “Sempre incentivamos práticas pedagógicas que reforcem como as mulheres podem ocupar todos os espaços”, afirma a diretora Eliane Leite, eleita Educadora do Ano pelo prêmio Mulheres que Transformam da XP Inc, no último dia 3.

Para a docente, a realização do Plano de Menina também influenciou positivamente o comportamento dos meninos. “A relação entre alunas e alunos melhorou muito na escola e os comentários machistas e preconceituosos, por exemplo, foram diminuindo”.

Posteriormente, os alunos tiveram a chance e participaram do Plano de Menino. Esta versão ofereceu uma programação de rodas de conversa e palestras com especialistas para refletir sobre comportamentos machistas, sexismo e masculinidade tóxica. A iniciativa levou os alunos a participarem do documentário “O silêncio dos homens” – filme que aborda as angústias e obstáculos no processo de mudança dos homens.

Etec Pirituba foi pioneira nos projetos Plano de Menina e Plano de Menino que realizam atividades de conscientização contra a desigualdade de gênero | Foto: Divulgação
Etec Pirituba foi pioneira nos projetos Plano de Menina e Plano de Menino que realizam atividades de conscientização contra a desigualdade de gênero | Foto: Divulgação

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