Alunos do CPS contam experiências com aulas online

Diante da pandemia, fomos obrigados a nos superar, a nos reinventar e a descobrir novas capacidades e habilidades – como estudar com mais autonomia e desfrutar melhor dos benefícios da tecnologia

18 de maio de 2020 10:04 am Etec, Fatec, Institucional

Alunos de Etecs e de Fatecs superam as barreiras do isolamento social e se dão bem nos estudos em casa l Fotos: divulgação

Covid-19 à parte, não é de hoje que milhões de brasileiros fazem cursos a distância, em especial no nível superior. Segundo o Censo 2018 da Educação Superior, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), foram oferecidas, naquele ano, 7,1 milhões de vagas a distância, contra 6,3 milhões de vagas presenciais. Um crescimento de 52,44% em relação a 2017.

Em 2020, ano que será marcado na história mundial, os alunos do Centro Paula Souza foram obrigados a vivenciar essa realidade de aprendizagem remota, de uma hora para outra, como forma de preservar sua saúde. A boa surpresa foi que, assim como angariou adeptos em todo o País, a “escola virtual” está se revelando uma experiência bastante rica nas Escolas Técnicas (Etecs) e nas Faculdades de Tecnologia (Fatecs) estaduais. Não que não haja desafios. E não são poucos. E não são fáceis. Mas há também ganhos que vão ser incorporados para toda a vida acadêmica e até profissional desses estudantes.

Começo difícil

Aos 40 anos, pai de família e trabalhador, Aislam Jordani Caldas pensou em desistir do curso técnico de Mecânica, na Etec Aristóteles Ferreira, em Santos. Acostumado a viajar todos os dias de moto até a escola, a 15 km de sua casa, ele achou que não seria capaz de ter disciplina necessária para ficar sentado na frente de uma tela. Na primeira semana, não foi fácil acompanhar as palestras nas masterclasses. Por sorte, dividiu sua angústia com o professor Lindionete Verderi Rodrigues. “Agradeço imensamente a solidariedade e a compreensão que ele teve. Deu a maior força para eu insistir mais um pouco. Concordei e, quando começaram as aulas relacionadas ao meu curso, tratando de temas do meu interesse, tudo mudou”, conta.

Hoje, mesmo sem ter obrigação de acompanhar a aula no horário, com possibilidade de resgatar os conteúdos na plataforma virtual, Aislam não perde uma aula: “Acho que estou me saindo muito bem. Descobri que na empresa onde trabalho eles também usam o Teams. Até troco informações com meus colegas e supervisor sobre as funcionalidades do aplicativo”.

Ajudar quem estava com dificuldade foi também a preocupação de Kely Pupim, 41 anos, aluna do curso superior tecnológico de Gestão Comercial da Fatec Assis. Funcionária da Secretaria Estadual de Educação, ela já utilizava plataformas digitais no trabalho, mas não conhecia o Teams, da Microsoft. “Na primeira semana, tivemos tempo para explorar as ferramentas. E nós, os que tivemos mais facilidade, acabamos ajudando os colegas. Agora, todos já se adaptaram e melhorou muito a interação da turma”, diz.

Para encarar o novo desafio, Vinícius Mattos Diegues, de 17 anos, contou com a vantagem de já estar familiarizado com o mundo da tecnologia. Aluno do terceiro ano do curso técnico de Informática na Etec Aristóteles Ferreira, ele reconhece que, mesmo sendo da área, achou tensos os primeiros dias de aula remota. “Era uma ferramenta nova, que a gente nunca tinha usado, com muita informação para assimilar”, lembra. O ponto positivo, ressalta, é que “a plataforma é boa, permite montar equipes, o chat é de uso fácil e consegue reunir vários alunos na mesma chamada”.

Como estratégia para vencer as barreiras, ele sugere a sua própria experiência, bem-sucedida: “O segredo é fuçar, fuçar, fuçar! Sem medo. Foi o que fiz, e fui descobrindo as coisas. Se der erro, desinstala o aplicativo e instala de novo. É simples fazer isso e vale a pena tentar, no começo, para depois ficar tranquilo, dominando a ferramenta para acompanhar o dia a dia”.

Foco na tela

Mais do que de encarar a nova tecnologia, Giovanna Alice Souza Moda, de 15 anos, tinha medo de não conseguir se concentrar, de não ter foco na aula a distância. Ela confessa que já era totalmente dispersa, mesmo no presencial. Cursando o segundo ano do Ensino Médio e o primeiro módulo do técnico de Açúcar e Álcool na Etec Professor Armando José Farinazzo, de Fernandópolis, a estudante nunca tinha tido uma aula online. Mas seu medo não tinha fundamento. Ao contrário, para sua surpresa, hoje se considera até mais aplicada: “Na escola, tinha um monte de coisas pra me distrair. Um falava daqui, outro brincava dali. Agora, eu só tenho que prestar atenção na aula. Anoto tudo que o professor fala”.

Difícil desviar a atenção até porque, como diz Ana Carolina Flores R. da Silva, 34 anos, aluna do técnico de Mecânica na Etec Aristóteles Ferreira “o professor está literalmente na sua orelha”. No caso dela, a situação é ainda mais complicada. Estudante e professora – dá aulas na rede pública –, Ana Carolina mora numa casa com seis pessoas. Divide o desktop pacificamente com mais dois irmãos e com os pais, que estão em teletrabalho. “Na minha hora de estudar, me tranco no quarto do meu irmão, onde está o computador, e consigo me concentrar”. Quando os demais têm tarefas mais urgentes, ela assiste as aulas no celular.

Giovanna elegeu como sua nova “sala de aula” um lugarzinho especial da casa: a varanda. É ali que espalha seus materiais sobre a mesa e conecta o celular à plataforma de aprendizagem, das 7h30 às 12 h, para o primeiro turno do dia; e das 19 às 23 horas, para o segundo. Durante a tarde, faz as atividades das disciplinas, estuda e descansa. É verdade que sente falta da turma. Não está mais rodeada pelos amigos, com quem conversa no grupo do Teams, ou por Whatsapp. Mas ela não está sozinha na sua jornada de estudo. Sempre a seu lado, a cachorrinha Akira, fiel companheira, não perde nem uma aula.

O que é bom vai ficar

Representante de sala, bastante crítico e participativo, na avaliação de seus professores, Thiago Marcelino da Silva, 17 anos, aprovou a nova modalidade de ensino. Aluno do terceiro ano do técnico de Logística integrado ao Médio, na Etec Bartolomeu Bueno da Silva – Anhanguera, em Santana do Parnaíba, ele destacou, como pontos positivos, a ‘escolha acertada’ da plataforma virtual, que considera muito funcional, e o ‘suporte legal’ dado pelos professores e pela instituição. “Foi melhor do que eu pensei, tínhamos professores preparados e na hora certa em cada equipe”,

Outra boa mudança observada por Thiago foi no relacionamento entre sua turma. “É claro que nada substitui o contato pessoal. Mas, de alguma forma, parece que o professor ficou mais próximo da gente. Você vê onde ele vive, o cachorro late, a gente dá risada… Colegas que não se manifestavam na classe, tinham vergonha de perguntar, agora interagem bastante no chat”, conta.

Essas boas práticas vieram para ficar, acredita Carolina de Santis Rogério, 21 anos, do curso de graduação tecnológica de Gestão de Produção Industrial na Fatec de Jaú. E ela entende do que fala, pois trabalha, junto com uma professora, em uma pesquisa sobre uso de tecnologia na Educação. “Para mim, está sendo um prato cheio observar o que funciona no ensino remoto”, relata. A estudante sente que, no virtual, as aulas rendem mais, pois há menos dispersão do que no presencial.

Em sua opinião, seria muito produtivo que a escola assimilasse e mantivesse o uso permanente dos recursos disponibilizados neste momento de exceção. “As aulas online podem apoiar, por exemplo, um programa de reforço extraclasse. Ou ser uma alternativa a situações em que o professor está doente, não pode vir à escola”, exemplifica.

Sem dúvida, muitos dos desafios impostos pela pandemia vão resultar em aprendizados. Por isso, é fundamental que, nesse processo de adaptação e exploração de novas capacidades, docentes e discentes tenham sempre em mente a pergunta: o que aprendemos com as aulas online? Além de garantir a continuidade dos estudos, em tempos de isolamento social, o ensino remoto, mediado por tecnologia, pode mudar a visão de estudo das pessoas e contribuir para transformar para melhor as salas de aula presenciais.

5 dicas de ouro para estudar online

  1. O segredo é fuçar, fuçar, fuçar – Dedique um tempinho a explorar as ferramentas digitais disponíveis. O ambiente virtual de aprendizagem oferece recursos que facilitam a organização dos seus materiais de estudo e agilizam as tarefas. Você vai estudar muito mais tranquilo se souber manejar as funções do sistema e não precisar se preocupar com questões técnicas no momento da aula em tempo real.
  2. Sem bagunça no drive – Distribua seus conteúdos, tarefas, exercícios e referências de estudo em pastas, para facilitar a busca, quando precisar retomar alguma informação. Avalie qual a forma mais fácil para você se organizar: por dia de aula, por disciplina, por projeto. Coloque palavras significativas e datas nos nomes dos arquivos. Não importa qual é a sua ordem, desde que os conteúdos sejam armazenados de forma a ser facilmente localizados.
  3. Crie uma agenda. E cumpra! – Mantenha suas obrigações em dia o máximo possível. Com muitas disciplinas online, a tendência é que você receba variadas tarefas, de variados professores. Faça uma tabela do tempo que você dispõe para assistir aula e estudar. Estabeleça uma parte desse tempo para fazer as tarefas diariamente e procure cumprir a cota para não acumular.
  4. Aproveite para crescer profissionalmente – Cada vez mais, a comunicação digital está se tornando uma prática corriqueira nas empresas – muitas vezes globalizadas, ou seja, obrigadas a interagir com atores em diferentes partes do mundo. Aproveite esse momento diferenciado na sua vida acadêmica para aprender o máximo possível sobre as técnicas e as formas de interação e relacionamento digital. Essa habilidade vai ser importante no seu futuro profissional, acredite.
  5. Em caso de pane, mantenha a calma – Se a internet cair no meio da aula, se o software bugar, se acabar a bateria do seu dispositivo na atividade avaliativa, enfim… em caso de problemas técnicos, saiba que você não é o primeiro, nem será o último. Seus professores estão cientes de que imprevistos podem acontecer e vão considerar as alternativas para que seu estudo não seja prejudicado. Você também pode recorrer aos canais de suporte disponibilizados pelo Centro Paula Souza
Slider image

A aluna Giovanna escolheu a varanda para estudar e desfruta da companhia da cachorrinha Akira |Foto: Acervo pessoal

Slider image

Kely conta que, em sua sala, quem tinha mais facilidade com as novidades tecnológicas ajudou os colegas | Foto: Acervo pessoal

Slider image

Vinícius diz que, apesar das muitas informações, a plataforma virtual é boa e fácil de usar | Foto: Acervo pessoal

Slider image

Ana Flores afirma que é difícil se distrair, já que o professor fica, literalmente, “na orelha” dos alunos | Foto: Acervo pessoal

Slider image

O aluno Aislam pensou em desistir, mas o professor deu uma força para que ele seguisse em frente | Foto: Acervo pessoal

Slider image

Carolina acredita que, depois da pandemia, a escola deveria manter o uso dessas tecnologias | Foto: Acervo pessoal

Slider image

Thiago diz que estudantes que eram mais tímidos na sala de aula interagem mais pelo computador | Foto: Acervo pessoal

Compartilhe


Veja também