Após observar o descarte de parte da fruta em feiras e mercados, estudantes concluíram que se tratava de uma boa matéria-prima; produto não desmancha nem perde o diâmetro ao ser usado
Pasta de celulose foi obtida a partir do cozimento do resíduo vegetal, moldada e impermeabilizada com parafina de soja| Foto: Divulgação
Ao pensar no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), quatro estudantes do curso técnico de Química da Escola Técnica Estadual (Etec) Prefeito Alberto Feres, de Araras, na Região de Campinas, tinham duas propostas em mente: criar um substituto para o plástico e trabalhar com algo que, normalmente, é descartado. Dessas ideias surgiu um canudo biodegradável feito a partir da coroa do abacaxi.
De acordo com a orientadora do projeto, Ana Maria do Nascimento Pires, Araras tem muitas feiras de rua e mercados especializados em hortifrutigranjeiros. “Raramente o cliente compra o abacaxi e leva a coroa”, afirma. A observação desse hábito fez com que os jovens elegessem essa parte da fruta como matéria-prima para o trabalho.
Definido o principal insumo do projeto, os estudantes tiveram de enfrentar alguns desafios. Um deles foi retirar a celulose da coroa do abacaxi sem causar impactos ambientais. Dessa extração, normalmente, resulta um material alcalino que não pode ser descartado sem tratamento prévio. “Basicamente, fizemos o cozimento contínuo da coroa do abacaxi por cerca de uma hora com hidróxido de sódio”, conta Ana Ligia Squisato, uma das autoras do projeto. “Para neutralizar o resíduo, usamos ácido sulfúrico e descartamos corretamente no laboratório.”
Obtida a celulose, faltava moldar e impermeabilizar o material. “É comum as pessoas recorrerem à parafina para tornar o canudo impermeável, mas isso ia contra a ideia de um produto sustentável”, diz Ana Lígia. Os alunos encontraram, então, uma parafina vegetal, feita de soja, usada por surfistas em suas pranchas.
Perspectivas
De acordo com a orientadora do projeto, os jovens conseguiram chegar a um canudo que não desmancha, não “cola” na boca e nem perde o diâmetro ao ser usado. Ana Maria vê um mercado promissor para produtos como o que foi desenvolvido na Etec. “A indústria do papel está em alta porque há muita gente tentando encontrar substitutos para o plástico”, avalia. “Aqui, nós moldamos o canudo com as mãos, mas, industrialmente, seria algo muito simples.”
Ana Lígia, que pretende fazer o curso superior de Química, já pensa em realizar um trabalho de iniciação científica a partir do projeto desenvolvido na Etec de Araras. Além dela, trabalharam na pesquisa Beatriz Juvetta, Lucas de Freitas e Lívia Zoré. O produto criado pelo grupo conquistou o segundo lugar na categoria Química da Feira Tecnológica Regional das Etecs e Fatecs (Fetec), realizada em novembro de 2019.