Em Santos e Itanhaém, unidades do Centro Paula Souza promovem projetos que unem ciência, sustentabilidade e protagonismo juvenil pela preservação dos oceanos
Estudantes da Etec de Itanhaém propõem utilização de resíduos do ambiente marinho para produção de biojoias l Foto: Divulgação
No dia 8 de junho, quando é celebrado o Dia Mundial dos Oceanos, instituições de ensino em todo o mundo reforçam a importância de preservar os mares e promover a educação ambiental. As Escolas Técnicas (Etecs) Dona Escolástica Rosa, de Santos, e de Itanhaém, destacam-se por incorporar a cultura oceânica ao currículo escolar e aos projetos de pesquisa e extensão. A proposta está alinhada à Década do Oceano (2021–2030), instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), e visa formar cidadãos conscientes da importância dos mares e dos oceanos para a vida no planeta, além do papel de cada indivíduo na preservação.
“A cultura oceânica é o conjunto de conhecimentos, valores e atitudes que permitem às pessoas compreender a influência do oceano na vida humana e da vida humana no oceano”, explica Thiago Pedro de Abreu, diretor da Etec Dona Escolástica Rosa. Segundo o professor, a proposta ajuda os alunos a entender que “mesmo quem vive longe do mar está diretamente ligado à saúde dos oceanos”.
A unidade foi inserida no conceito por meio da participação no programa Escolas Azuis, em parceria com universidades e organizações não-governamentais (ONGs) ambientais. Desde então, os temas ligados ao oceano passaram a fazer parte de projetos pedagógicos, feiras de ciências, atividades interdisciplinares e ações com a comunidade.
Entre os principais projetos desenvolvidos pela escola está o ESG Escolar, que adapta ao ambiente educacional os princípios de governança ambiental, social e institucional, muito usados por empresas. Destaque também para o MarEtec, iniciativa do curso técnico em Logística, que mobiliza alunos em ações de limpeza e conscientização sobre o descarte de microlixos nas praias.
“O projeto surgiu em sala de aula e já participou de ações em conjunto com a Etec de Cubatão, o coletivo Surf Raízes e o Rotary Club de Santos Gonzaga. Nosso objetivo é gerar impacto real na comunidade e integrar diversos componentes curriculares”, conta o diretor. Além disso, a escola promove campanhas de coleta e reciclagem de resíduos, organiza a Semana do Oceano, com exposições e atividades interativas, e mantém parcerias com universidades e instituições ambientais.
Interdisciplinaridade
Esses projetos conectam-se diretamente ao currículo por meio da interdisciplinaridade. Disciplinas como biologia, geografia, química, história, sociologia e língua portuguesa abordam de ecossistemas marinhos até produção de textos de conscientização ambiental. Na formação técnica, os alunos desenvolvem aplicativos, jogos e soluções logísticas voltadas à sustentabilidade.
Segundo o professor Thiago, os resultados já são visíveis: “Notamos aumento do interesse dos alunos por temas ambientais, maior responsabilidade ecológica e até mudanças de hábito dentro e fora da escola”. A comunidade também se envolve, participando de eventos, oficinas e palestras, além de adotar práticas mais sustentáveis no dia a dia.
Para ele, a implantação da cultura oceânica no Ensino Técnico representa uma virada de chave: “Não se trata apenas de ensinar sobre o oceano. É sobre formar cidadãos comprometidos com o futuro do planeta”.
Um novo olhar para o oceano
Na Etec de Itanhaém, os projetos refletem o potencial da cultura oceânica de gerar conhecimento e transformação social. Com apoio do professor Rodrigo Ferraz, coordenador de área do curso de Meio Ambiente integrado ao Ensino Médio, o trabalho de conclusão de curso (TCC) intitulado Transformação de Resíduos do Ambiente Marinho para a Produção de Biojoias (Iya Omi), desenvolvido por alunos, propõe uma solução criativa e sustentável para o lixo marinho.
“O oceano é essencial para o equilíbrio ambiental global e para a vida humana, mas vem sofrendo com os impactos da ação humana. O projeto Iya Omi busca agregar valor ao lixo plástico retirado do mar, transformando-o em acessórios de moda com produção ética e sustentável”, explica. A iniciativa ainda promove a inclusão de comunidades vulneráveis na coleta, produção e comercialização das biojoias, incentivando a moda circular e consciente.
Vida no mangue
Outro destaque da Etec de Itanhaém é o TCC Caracterização da ictiofauna da região de mangue na Bacia Hidrográfica de Itanhaém, que busca avaliar a qualidade da água por meio da análise dos peixes capturados em saídas de campo. A pesquisa será apresentada ao Conselho de Defesa do Meio Ambiente de Itanhaém para embasar propostas de políticas públicas.
A aluna Ana Maria Favorito, integrante do projeto, destaca a relevância da pesquisa: “É importante para a visualização da real qualidade das águas deste local. Muitas pessoas se alimentam diariamente dos peixes ali presentes e não sabemos se estão infectados de alguma forma. Analisar a biota intestinal para descobrir se há contaminação e de que tipo é essencial para contribuir com a saúde pública da região.”
A crescente inserção da cultura oceânica nas unidades do Centro Paula Souza (CPS) reforça a ideia de que a educação ambiental precisa ser prática, interdisciplinar e conectada à realidade dos estudantes. Para os professores envolvidos, a abordagem amplia o alcance do conhecimento, fortalece a cidadania e impulsiona soluções inovadoras para os desafios ambientais.