Redação do Enem sobre educação para surdos valoriza inclusão, diz especialista do Paula Souza

As Etecs e Fatecs do Centro Paula Souza têm política inclusiva que disponibiliza tecnologia assistiva e acompanhamento personalizado para atender alunos com todos os tipos de deficiência, desde o processo seletivo até a conclusão do curso

10 de novembro de 2017 10:26 am Etec, Fatec

Acessibilidade e atendimento especial a pessoas com deficiência estão em pauta no CPS | Foto: Gastão Guedes

Todo estudante surdo tem direito a aprendizado adaptado às suas necessidades especiais, assim como os alunos com qualquer tipo de deficiência. Está explícito na constituição brasileira. Garantir esse acesso igualitário e inclusivo é tarefa das escolas e o desafio imposto às instituições educacionais foi tema da redação do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado no último domingo, surpreendendo quem se preparou para discorrer outros temas da atualidade.

No Centro Paula Souza (CPS), a Assessoria de Inclusão da Pessoa com Deficiência trabalha para que todos os alunos com deficiência consigam aprender e se integrar à comunidade escolar. As Etecs e Fatecs seguem uma política inclusiva que disponibiliza tecnologia assistiva e acompanhamento personalizado para incluir desde o processo seletivo até a conclusão do curso.

No caso específico dos surdos, o atendimento pode ser dado por um intérprete de libras, por exemplo. A equipe de Inclusão é liderada pela educadora e especialista no assunto Alessandra Costa, que discute as dificuldades e acertos da inclusão de pessoas surdas no ensino regular e profissionalizante. Confira a entrevista:

O que achou da escolha do tema para a redação do Enem?

Achei muito importante. Abordar o tema valoriza a inclusão, especialmente no Brasil. Essa discussão nos mostra que inclusão é um direito de todos e que alunos com deficiência devem de ter direitos iguais aos demais. Colocar essa questão no Enem contribui para que as instituições de ensino tenham um olhar diferente para a inclusão.

Por que muitas pessoas manifestaram surpresa com o assunto?      

Nossa sociedade ainda não está suficientemente envolvida com a questão da inclusão. Poucas pessoas convivem com isso. Muitos de nós desde pequenos nunca tivemos um colega ou familiar com deficiência, então não é um hábito pensar na inclusão. Hoje, pessoas com deficiência estão procurando o ensino profissionalizante e superior. Deparar-se com elas na sala de aula acrescenta na formação do estudante. Os jovens enxergam a diversidade com grande facilidade. Porém, apenas uma pequena a parcela da população convive com pessoas com deficiência. Muitos alunos esperavam questões sobre a situação política do Brasil ou outros temas.  A escolha do tema no Enem vai acordar as pessoas para a inclusão.

O que é necessário para que uma escola esteja preparada para receber um aluno surdo?

No Centro Paula Souza, quando o aluno surdo é matriculado, imediatamente a direção da unidade entra em contato com a nossa assessoria de inclusão. Verificamos se ele sabe libras e então contratamos um intérprete para atender esse aluno durante o curso todo. Inclusive, esse intérprete acompanha os alunos em visitas técnicas, práticas em laboratório e em todo o período em que o estudante está na escola. Isso é lei. O aluno tem direito a um intérprete que o acompanhe enquanto ele está na escola.

Para os estudantes que têm deficiência auditiva, mas que conseguem ler lábios dos professores, há metodologias diversificadas a que o professor deve estar atento, como não escrever na lousa totalmente de costas para a sala, sempre virar quando vai falar, etc. Mas o aluno surdo tem que ter o intérprete, que transmitirá o conteúdo que o professor está explicando. No Paula Souza, as duas possibilidades existem para garantir que aluno tenha sucesso no processo de ensino-aprendizagem.

A presença do intérprete torna suficiente a inclusão do aluno também com seus colegas?

Quando há um intérprete na sala de aula, os colegas passam a ter vontade de aprender alguns sinais. Essa relação entre pessoas que possuem deficiências e as que não as possuem é rica para todos. Os jovens têm curiosidade e pedem “me ensina a falar isso? Bom dia, boa tarde…”. Alguns colegas até aprendem libras porque gostaram de se comunicar nessa linguagem e percebem que é importante saber.

No Centro Paula Souza temos 20 alunos surdos com intérpretes de libras, em Etecs e Fatecs, nos cursos mais variados possíveis, desde o Ensino Técnico integrado ao Médio à graduação tecnológica.

Atualmente, quais são os maiores desafios para a educação dos surdos?

Um dos maiores desafios é justamente a escola estar preparada para receber, porque ela tem que capacitar seus professores, contratar intérprete de libras, socializar esses alunos com os demais colegas, sempre atender suas necessidades educacionais, respeitar o tempo de aprendizagem. Com o tempo esse desafio se tornará mais natural.

No Centro Paula Souza a inclusão começa já no processo seletivo. Como funciona a assistência para surdos?

A pessoa com deficiência é assistida desde o momento de sua inscrição para o Vestibular ou Vestibulinho. Se ele é surdo, ele indica no momento de seu cadastro para a prova que necessita do intérprete de libras. No momento do exame, ele tem esse intérprete para atende-lo individualmente durante toda a prova. O candidato faz a prova separadamente em uma sala e pode mostrar que não entendeu um enunciado e o intérprete vai traduzir as informações para ele. Ele realiza a prova sozinho, porém conta com esse apoio.

Se aprovado, vai ser auxiliado na unidade de forma personalizada. Eu posso ser surda e precisar do intérprete, ou ter deficiência auditiva e ter um leitor no momento do Vestibulinho, e quando sou matriculada os professores são preparados com metodologia para atender às minhas necessidades específicas.

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